Onde quer que fores, encontrarás apenas a ti mesmo – Mestre Linji

Mestre Linji ensinou: ”Só vossa verdadeira pessoa que aqui está a escutar o Darma neste momento pode entrar no fogo e não se queimar, entrar na água e não ser arrastada, entrar nos domínios infernais e nos três destinos perniciosos como quem vai de excursão por um parque.

Ela pode entrar nos mundos de espíritos e animais famintos sem ter de suportar a retribuição desses mundos.

Por que isso acontece? Porque ela não discrimina contra nada. Se Vós ainda amais o sagrado e odiais o profano, seguireis à deriva, a afundar no oceano de nascimento e morte. As aflições surgem na mente. Se não há mente alguma, como podem as aflições nos prender? Se não perdeis o tempo com discriminação, se não ficais presos a sinais, vós automaticamente compreendeis os frutos da Senda num instante”.

O fogo não pode queimar e a água não pode afogar à verdadeira pessoa. Os olhos não discriminam natureza de aparência. As aflições vêm da mente. Se não há mente alguma, como podem as aflições nos prender?

No Registro da Transmissão da Lâmpada lemos o seguinte: “As aflições Vêm da mente. Se não há mente alguma, como podem as aflições nos prender se nossa mente não está ali? Não vos canseis com a dura labuta da discriminação. Se não ficardes presos a forma exterior, com muita naturalidade Vós compreendereis a Senda num instante”.

O método de ensino do Mestre Linji era de destruição. Ele pegava as ideias que temos na mente e quebrava-as do jeito que bem podia. Podia usar parte de um sutra ou então virar o sutra pelo avesso, lançar mão de tudo o que fosse agressivo até nos fazer acordar. Ele pegava o bambu para lutar contra os agressores na fronteira, como o rei fazia.

Ele utilizava o grito.

A função do grito é destruir, penetrar e anunciar a primavera, o tempo do despertar e da felicidade.

Mestre Linji ensinou: ”Se ficais a perambular procurando alguém de quem possais aprender a prática, mesmo que estudeis durante éons infindáveis, no fim ainda estareis indo e vindo no mundo de nascimento e morte.

Não sereis como a pessoa que nada tem a fazer quando entra no templo e se senta na posição de lótus”. 

Isto significa que não adianta ir de mosteiro em mosteiro. Fica onde estás. Não corras em busca de alguém de quem aprender a prática. Ele não está dizendo que não podemos ir a lugar nenhum. Podemos. Podemos ir a qualquer lugar. Mas não devemos procurar coisa alguma fora de nós. 

As pessoas vão ao terapeuta porque pensam ter uma doença mental e que o terapeuta tem algum conhecimento que lhes trará a cura e a paz. No entanto, se Mestre Linji fosse nosso terapeuta, ele teria dito: “Teu corpo e teu espírito são capazes de curar. Tens de retornar a ti mesmo e refugiar-te nestes elementos para que eles possam manifestar-se e fazer seu trabalho”.

Sidarta partiu em busca da Senda. Ele praticou com muitos professores, mas acabou tendo que voltar a si mesmo e conseguiu descobrir a sua Senda junto à árvore do bodi. Podemos ir a um mosteiro ou a uma bonita ilha em busca de retiro e cura, desde que saibamos que a cura está dentro de nós e o lugar é apenas a condição que permite a manifestação dessa cura. Não atribuas poderes curativos especiais ao lugar. Quando pararmos de correr por aí, seremos muito mais felizes.

Se queremos fugir e achar mais alguma coisa, o Mestre Linji nos diria: ”Onde quer que fores, encontrarás apenas a ti mesmo”. Encontraremos apenas as dificuldades, a solidão, a tristeza e o sofrimento que já conhecemos. Nada é igual a ficar ali, retornando a nós mesmos, encontrando os elementos de felicidade, iluminação e libertação bem aqui, em nosso corpo e nossa mente.

Trecho do livro  Nada a fazer, não ir a lugar algum, Thich Nhat Hanh

(Se você gosta de Jiddu Krishnamurti vai se apaixonar pelo adorável Mestre Linji)

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