Meditação no Taoísmo

Meditação

A meditação é parte importante das práticas orientais, inclusive no Taoismo. O motivo para isso é muito simples: não podemos compreender o universo todo apenas com nossa mente racional. Muita coisa não pode ser percebida e assimilada apenas com a lógica racional. O próprio conceito de Tao é desta natureza, segundo Laozi. Para compreendermos e assimilarmos o Tao, precisamos transcender o intelecto, alcançar um nível além do simples racionalismo. E a meditação é uma das ferramentas utilizadas para se atingir esse nível elevado de consciência.

Muitas pessoas ainda possuem uma visão equivocada da meditação. Acham que meditar é apenas ficar sentado imóvel durante horas, como um tijolo. Ou que precisam “esvaziar a mente” para meditar. Isso tudo é muito enganoso. Existem meditações sentadas, em pé ou mesmo em movimento, especialmente no Taoismo.

Outros acham que meditar é “parar a mente” e que precisam se forçar a não pensar em nada ou imaginar uma parede branca, vazia. Isso não funciona. Os chineses dizem que a mente é como um macaco, que pula daqui e dali, constantemente. Querer “parar a mente” equivale a tentar segurar o macaco, que só irá se debater ainda mais ou mordê-lo. O correto é deixar o macaco livre e observar seus movimentos até que ele se canse. E isso acontece, cedo ou tarde. Então meditar é, muitas vezes, simplesmente deixar a mente funcionar sem que você interfira.

Deixe os pensamentos correrem e não se apegue a qualquer um deles, apenas observe-os passar como se fossem de outra pessoa. Se prestar atenção a qualquer um o consciente acorda” e terá que começar tudo de novo. Você verá imagens e ideias muito estranhas aparecendo das profundezas de sua mente, mas não se incomode e não fixe sua atenção nelas. Deixe que surjam e desapareçam sozinhas. Após um tempo esse fluxo de pensamentos irá diminuindo cada vez mais até praticamente cessar. Aí começa a meditação, propriamente dita.

Macrocosmo e Microcosmo

Existe uma idéia em voga mesmo no Ocidente de que o Macrocosmo se espelha no Microcosmo. Isso significa que tudo o que pode ser visto no universo possui uma representação também no mundo microscópico. Por exemplo, os planetas girando ao redor do sol que se parecem com elétrons ao redor do núcleo atômico. Outra idéia é a das marés oceânicas, causadas pela lua. Esse corpo celeste possui uma influência sobre as pessoas que está mais do que comprovada (afinal, nós somos 70% água).

A importância de se estudar os dois lados do telescópio, por assim dizer, é muito clara, pois um pode complementar e explicar o outro. No entanto, aqui no Ocidente, enquanto o ser humano procura descobrir qual a forma geométrica do universo, a estrutura de funcionamento de sua própria mente é um assunto que lhe escapa completamente. Enquanto o Homem não se dedicar a conhecer melhor a si mesmo, não poderá compreender a totalidade do universo físico.

Dentro e Fora

A idéia oriental é de que o homem e o Universo são uma só coisa. Veja da seguinte forma: quando se enche um balão destes de festas de aniversário, o ar que tem dentro dele é o mesmo que existe fora. Assim é o ser humano, cujo interior é exatamente igual ao exterior.

A morte advêm quando o balão se rompe, misturando o que existe dentro com o que existe fora. Isso é o que a morte representa para as filosofias do Oriente.

Partindo-se deste princípio, de que o que existe dentro também existe fora, podemos investigar o Universo todo a partir da investigação de nosso próprio interior. Esse é o cerne da maioria das correntes filosóficas orientais, que se preocupa sobremaneira com a descoberta do funcionamento do próprio ser humano. Ferramentas para obter controle total sobre a mente e o corpo foram desenvolvidas a níveis inexistentes no Ocidente. Pode-se afirmar que todo o tempo que o Ocidente dedicou a pesquisar o mundo físico à sua volta é insignificante perto do tempo que o Oriente dedicou em descobrir os recônditos da mente humana e sua natureza, extrapolando esse conhecimento para o mundo ao seu redor.

O Universo Interior

A mente e, por que não dizer, a alma humana, é extremamente profunda e complexa. O estudo mais acurado necessário à sua compreensão e domínio demanda muitos e muitos anos de dedicado esforço, mas o resultado é muito compensador.

Ao se aprofundar em seu próprio interior o ser humano passa a olhar o exterior de outra forma, de maneira mais benevolente, pois passa a enxergar tudo como extensão dele próprio. O conhecimento de seu próprio interior transmuta-se automaticamente num conhecimento maior de tudo o que existe no Universo. Essa busca interior pode responder as questões milenares que o Homem se faz de modo mais fácil do que se busca essas respostas fora.

A pessoa que mergulha em si mesmo atinge um estado de “centralização”que o auxilia a enfrentar os problemas do dia a dia, evitando muitos transtornos e tratamentos”. Para atingir essa centralização a cultura oriental criou diversas ferramentas: meditação pura, no Raja Yoga e no Zen; respiração e Qigong no Taoísmo; mandalas no Budismo Tibetano; mantras e orações no Shintoísmo; estudo dos Sutras no Budismo; práticas ascéticas no Budismo Esotérico, etc…

A Meditação Sentada

A meditação sentada é uma característica muito presente no Budismo e no Hinduismo e que aparece no Taoismo também, embora sua ênfase seja menor. O estudioso Alan Watts afirmou que existem 96 posições para se meditar sentado, o que mostra como pode ser variada essa técnica. Ele também assume que o Ch’an (Zen) não possuía uma ênfase na meditação sentada no início de sua existência. Para eles o despertar da iluminação era algo repentino e não cultivado através de técnicas como a meditação.

Pode-se fazer a meditação sentada em uma cadeira, poltrona, ou diretamente no chão. No chão a postura de pernas cruzadas, em lótus, é a mais adequada, mas se não conseguir pode assumir uma outra qualquer que lhe dê conforto.

Meditar sentado possui alguns detalhes que as pessoas não se atinam. Por exemplo, não basta sentar de pernas cruzadas no chão. Ao relaxar você cairá para trás e não conseguirá manter uma postura correta. Para isso você deve sempre manter seus joelhos encostados no chão e posicionados abaixo de seu quadril. Essa postura garante um bom equilíbrio e apoio que facilitam o relaxamento. Isso é facilmente conseguido sentando-se em uma almofada ao invés de diretamente no chão. Os praticantes do Zazen, meditação sentada do Budismo Zen, possuem uma pequena almofada redonda chamada “zafu”, especialmente para se sentar e manter a postura correta. Qualquer almofada pequena servirá, desde que deixe os joelhos encostarem no chão.

Depois de sentado na posição correta, abaixe ligeiramente o queixo para que o topo da cabeça se projete para cima. Isso ativa a conexão com o Céu através do ponto Baihui de acupuntura (Vaso Governador 20) localizado no topo da cabeça, na área da “moleira”. Com as pernas cruzadas e a cabeça nesta posição o fluxo de energia da Terra é reduzido e o fluxo do Céu é estimulado, fazendo a pessoa ascender no nível de consciência.

Agora você pode relaxar e prestar atenção na respiração. Respire de forma profunda e suave, lentamente. Deixe a mente vagar livremente, sem se apegar a qualquer pensamento em particular. Aos poucos você sentirá uma grande tranquilidade interior e nem perceberá o passar dos minutos.

Por ser uma prática muito introspectiva, é preciso cuidado ao retornar ao mundo normal. Abra os olhos lentamente, levante a cabeça e olhe ao redor. Descruze as pernas (se for esta a sua postura escolhida) e espreguice-se suavemente. O retorno ao estado normal de vigília deve ser suave e gradual. Levantar-se abruptamente para atender ao telefone, por exemplo, pode ser fonte de grandes dores de cabeça e enxaquecas.

Trecho de Os Caminhos do TAOISMO de Gilberto Antonio Silva