A importância do aspecto psicológico no caminho espiritual

Muitas tradições espirituais contemporâneas tendem a favorecer o aspecto dual ou o aspecto não-dual da realidade. As primeiras décadas do budismo teravada e do budismo zen no Ocidente, por exemplo, enfatizaram a visão não-dual de residir no vazio, no silêncio e na observação imparcial da psique, em vez de mergulhar no domínio confuso, imprevisível e relativo da psicologia humana.

Na outra ponta do leque, muitas tradições xamânicas contemporâneas, assim como linhas psicológicas com base na espiritualidade, tendem a dar destaque à dualidade e ao mundo da forma, considerando-a um caminho para a compreensão espiritual, às vezes subvalorizando a realidade do vazio, da impermanência e da falta de chão. Da mesma forma, em nossas abordagens individualizadas da prática espiritual, provavelmente favorecemos um aspecto da realidade a expensas do outro. Num dos extremos está a tendência ao desvio espiritual, que usa conceitos espirituais como pretextos para não assumir a responsabilidade por nós mesmos e pelos outros, o que resulta num processo de desenvolvimento incompleto. “Se você trai a Terra em si mesmo, nunca vai alcançar o céu dentro de você”, escreve Arnaud Desjardins em The Jump into Life [Saltar para a vida].5 No outro extremo do continuum está uma obsessão narcisista conosco mesmos, com nossa história e com o nosso processo pessoal, acompanhada por uma vida de busca incessante e tentativas infindáveis de autoaperfeiçoamento – nenhum dos dois leva em conta a essência não-dual da vida.

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Na outra ponta do espectro estão aqueles que fazem muita meditação e muitas práticas espirituais e supõem ter transcendido sua dinâmica psicológica – ao menos até fracassos repetidos nas relações afetivas, na criação dos filhos e no trabalho com as próprias emoções as lembrarem de que não a transcenderam, não.

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Quando a espiritualidade e a psicologia trabalham juntas, surge uma visão mais holística da vida. Quando uma pessoa faz simultaneamente um trabalho psicológico profundo e realiza práticas espirituais, os insights obtidos com uma delas ajuda a pessoa a mergulhar mais profundamente na outra. Acredito que, principalmente para os ocidentais, a psicologia e a espiritualidade precisam uma da outra. Em última instância, há uma ligação entre as duas, mas elas não têm de substituir uma à outra.

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Tornar-nos conscientes daquilo que é inconsciente significa renunciar ao papel de vítima que caracteriza a imaturidade psicológica

Trechos de De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual – Mariana Caplan

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