MOYERS: Que histórias da mitologia nos ajudam a compreender a morte?
CAMPBELL: Você não compreende a morte, só aprende a aceitá-la. Eu diria que a história de Cristo, que assumiu a forma de um humilde humano até a morte na cruz, é a melhor lição, para nós, quanto à aceitação da morte. A história de Édipo e a Esfinge também tem algo a dizer, a respeito. Na história de Édipo, a Esfinge não é a Esfinge egípcia, mas uma forma feminina, com asas de pássaro, corpo de animal e busto, pescoço e rosto de mulher.
O que ela representa é o destino de todo ser vivente. Ela havia provocado uma peste na terra, e a única maneira de erradicá-la era resolver o enigma proposto por ela: “O que é que anda com quatro pernas, depois com duas e em seguida com três?” A resposta é: “O homem”. A criança engatinha com quatro pernas, o adulto anda com duas e o velho usa uma bengala.
O enigma da Esfinge é a imagem da própria vida através do tempo: infância, maturidade, velhice, morte. Quando você enfrenta e aceita o enigma da Esfinge, sem medo, a morte não interfere mais em você e a maldição da Esfinge cessa. O domínio sobre o medo da morte é a recuperação da alegria de viver. Só se chega a experimentar uma afirmação incondicional da vida depois que se aceita a morte, não como algo contrário à vida, mas como um aspecto da vida. A vida, em sua transformação, está sempre destilando a morte, está sempre à beira da morte. O domínio sobre o medo propicia coragem à vida. Esta é a iniciação fundamental de toda aventura heróica: destemor e realização.
Lembro me de ter lido, quando criança, sobre o grito de guerra dos bravos índios que partiam para a batalha, enfrentando a chuva de balas dos homens de Custer. “Que belo dia para morrer!” Não havia ali nenhum apego à vida. Essa é uma das grandes mensagens da mitologia. Eu, tal como me conheço hoje, não sou a forma definitiva do meu ser. Constantemente temos de morrer, de um modo ou de outro, para aquele nível de ser já atingido.