“Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.
Mateus 6:24
Estou fazendo uma formação em instrutor de mindfulness e para isso precisei adotar alguns hábitos de leitura e busca de informações. Me cadastrei em canais de vídeo, de blogs, redes sociais etc.
Me assustou muito como o autoconhecimento, espiritualidade, meditação etc etc se transformou num grande negócio, agressivo e falso como todo negócio que busca somente o lucro, é assustador.
(/inserido posteriormente) Claro que olhando por um lado positivo qualquer que seja a motivação o que importa é que as pessoas tomem conhecimento das coisas, é através do falso que podemos encontrar o verdadeiro (/)
Se estiver em busca de ajuda espiritual e autoconhecimento o mais indicado é procurar um religioso de fato, busque um monge num mosteiro, vá a um centro de Umbanda, ao templo evangélico, a igreja, mesquita, busque um psicólogo, psiquiatra, leia muitos livros, se observe com atenção, compaixão e sem julgamentos, enfim… cuidado com os papagaios do autoconhecimento.
Esse um caminho solitário muitas vezes e que basicamente depende somente de nós mesmos. É solitário mas somos muitos, lembre-se disso sempre.
Alguns desses que citei acima, pelo caráter caritativo, nem cobram qualquer dinheiro, alguns cobram por ser sua profissão de aconselhamento, isso é justo quando falamos de aconselhamento para humanos feito por humanos como profissionais.
Autoconhecimento e espiritualidade não é conhecimento ordinário, não é posse, não basta ter/ler um bom livro, texto ou frases de efeito sobre espiritualidade e autoconhecimento se o próprio ser não sente isso dentro de si.
Autoconhecimento e espiritualidade nem precisa do conhecimento literário como estamos acostumados, nenhum certificado vai lhe garantir ter essa sabedoria. Não adianta continuar nos enganando mais e achar que algo virá do exterior.
Um dia um grupo de jovens de Kalama veio visitar o Buda enquanto ele estava naquela área. Eles perguntaram, “Querido professor, muitos professores vieram aqui e cada um deles defende que seu ensinamento é a verdade, é o absoluto. Cada um diz que deveríamos segui-los e não seguir a outro professor. Qual é a sua idéia?”
O Buda disse: “Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso disse. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo.”
Pronto. Só esse conselho do senhor Buda já basta.
O intuito desse breve texto não é criar polêmica de forma alguma.
A seguir um texto que não sei bem de onde peguei (creio ser de
ALÉM DO MATERIALISMO ESPIRITUAL Chögyam Trungpa) , tem também um link no final pra complementar:
A última é a sedução das filhas de Mara. Esta, a sedução do materialismo espiritual, é extremamente poderosa por ser a sedução de pensar que “eu” alcancei alguma coisa. Se julgarmos ter alcançado alguma coisa, ter “conseguido”, então, teremos sido seduzidos pelas filhas de Mara, a sedução do materialismo espiritual.
Temos muitas expectativas, mormente se estivermos à procura de um caminho espiritual e envolvidos com o materialismo espiritual. Temos a expectativa de que a espiritualidade nos trará felicidade e conforto, sabedoria e salvação. Esse modo egocêntrico, literal, de encarar a espiritualidade terá de ser virado completamente pelo avesso. Finalmente, se renunciarmos a toda esperança de atingir qualquer espécie de iluminação, então, nesse momento, o caminho começa a abrir-se. É como a situação de esperar a chegada de alguém. Estamos quase desistindo da esperança de vê-la chegar, já pensando que a idéia da sua chegada era simples fantasia de nossa parte, que ela, em primeiro lugar, não tinha sequer a intenção de aparecer. No momento, porém, em que dizemos adeus à esperança, a pessoa aparece. O caminho espiritual funciona dessa maneira. É uma questão de gastar toda a expectativa. A paciência é necessária. Não precisamos empurrar-nos com excessiva energia para o caminho; precisamos tão-somente esperar, deixar algum espaço, não nos ocuparmos demais tentando compreender a “realidade”. Faz-se necessário, primeiro, ver a motivação da nossa busca espiritual. A ambição não é necessária se pretendermos partir para a caminhada com a mente aberta, com um espírito que transcende tanto o “bom” como o “mau”.
Surge uma tremenda fome de conhecimentos quando principiamos a compreender a origem de duhkha. Haverá forte impulso para passar além dela. Se nos empurrarmos exageradamente, o caminho da espiritualidade se transformará no caminho da dor, da confusão, do samsara, porque estaremos ocupados demais tentando salvar-nos. Estamos por demais entusiasmados por apreender, tão atarefados cuidando da nossa ambição de progredir no caminho que não nos deixamos estar e não examinamos todo o processo antes de começar. É necessário não nos precipitarmos no caminho espiritual, mas preparar-nos adequada e completamente. Esperemos apenas. Esperemos e examinemos todo o processo da “busca espiritual”. Consintamos numa pausa.
Como já discutimos nos capítulos que versam sobre materialismo espiritual, muitas pessoas cometem o erro de supor que, por ser o ego a raiz do sofrimento, a meta da espiritualidade consiste em vencê-lo e destruí-lo. Elas se esforçam para eliminar a pesada mão opressiva do ego mas, como descobrimos antes, essa luta é apenas outra expressão dele. Giramos e giramos, tentando aprimorar-nos através da luta, até compreendermos que o problema reside na própria ambição de aprimorar-nos. O entendimento somente surge quando há brechas em nossa luta, quando paramos de tentar nos livrar do pensamento, quando deixamos de tomar o partido dos pensamentos bons e piedosos contra os pensamentos maus e impuros, quando nos permitimos simplesmente ver a natureza do pensamento.
https://budismopetropolis.wordpress.com/2015/02/05/as-8-preocupacoes-mundanas/