A Opinião nas Meditações de Marco Aurélio

3. Três são as coisas que te integram: corpo, sopro de vida e inteligência. Destas, apenas duas coisas te pertencem, na medida em que deves te ocupar delas. Só a terceira é propriamente tua. Caso expulsares de ti, isto é, de teu pensamento, tudo quanto os outros fazem ou dizem, ou quanto tu mesmo fizeste ou disseste; e tudo quanto ,no futuro, te perturba e, independente de tua vontade, está vinculado ao corpo que te rodeia ou ao teu sopro de vida; e também tudo o que vem do turbilhão exterior que agita ao teu redor, de maneira que tua força inteligente, liberta do destino, pura e sem ataduras possa viver praticando a mesma justiça, aceitando os acontecimentos e professando a verdade; se retiras, separando de tua alma, tudo o que provem dos desejos, o futuro e o passado, e faz a ti mesmo, como Empédocles, “uma esfera redonda, perfeita e satisfeita na sua plenitude solitária”, e te ocupas em viver exclusivamente o presente, poderás ao menos viver o resto de tua vida até a morte, sem confusão, benévolo e propício com tua divindade interior.

4. Muitas vezes me perguntei, com admiração, como cada um leva mais em consideração a opinião dos outros do que a de si mesma. E, por exemplo, se um Deus ou um sábio mestre ordenasse a alguém que refletisse o seu interior e traduzisse em palavras tudo quanto concebesse ou pensasse, nem sequer um só dia aguentaria, tanto prezamos mais pela opinião dos outros do a nossa.

6. De nada mais precisarás se tua opinião presente for verdadeira, se tua ação presente for útil à sociedade e se tua disposição for de acolher de bom grado tudo o que for de causa exterior.

7. Destrói a opinião e destruído estará o pensamento “fui prejudicado”. Destrói a queixa “fui prejudicado” e destruído estará o dano.

11. Não consideres as coisas tal como as julga o homem insolente ou como quer que as julgues. Mas antes, examina-as tal como são em realidade.

25. Expulsa a opinião e estarás livre. Quem, pois, te impede de expulsá-la?

26. Sempre que te incomodares com algo, estás esquecendo que tudo se produz de acordo com a natureza do conjunto universal, e também que a falta é alheia a esse conjunto. Além disso, que tudo o que está acontecendo, assim sempre acontecia e acontecerá, agora e em qualquer parte. O homem se liga a todo gênero humano não pelo sangue ou pelo nascimento, mas pela comunhão da inteligência. E esqueces deste modo que a inteligência de cada um é um deus e emana da divindade. Que nada é patrimônio particular de ninguém; antes bem, que filhos, corpo e também a mesma alma vieram de Deus. Esqueces também que tudo é opinião; que cada um vive unicamente o momento presente, e isso é o que se perde.

do livro Meditações de Marco Aurélio

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