Nos primeiros 6 meses de pandemia eu estava em total assombro porque obviamente ninguém fez o menor sinal de nos precaver de algo assim, choque, assombro e uma estranha excitação diante de uma mudança tão brusca. Mudanças abruptas me causam isso. Junto disso tudo o medo: eu certamente iria morrer, um vírus que ataca o pulmão, eu fumante, era só questão de tempo mesmo.
O resultado de toda essa tensão foi o que hoje chamam de Burnout ou o que prefiro, ansiedade e medo, só isso. Os nomes mudam pra descrever quase a mesma coisa básica.
Perdi o emprego porque fui carinhosamente convidado a me retirar. Não foi a primeira vez, parece que as pessoas não conseguem lidar com outras pessoas que estão em crise, eles se livram delas, no ensino médio também fui convidado a sair de uma escola. Ao invés de tentarem me ajudar foi mais fácil me convidar pra sair. Olhando agora foi uma benção. Pode ser clichê mas parece que tudo ocorre do melhor jeito.
Quem tem ataques de ansiedade e pânico sabe bem que sair de casa é um tormento, tonturas, seca a boca, medo de que algo vai acontecer. Foi assim que fiquei e com a pandemia, sendo proibido sair de casa, a coisa não se resolve.
Para solucionar as tonturas e medos de sair de casa eu saía de casa. Andava 100 metros, no dia seguinte 200 e cada dia ia mais longe. Hoje posso ir até Aparecida do Norte andando, respirando, com medo, mas dando um passo na frente do outro, muito atento a tudo, porque se por acaso eu morrer não quero perder nenhum detalhe. 😊
E.