O Budismo Theravada que trouxemos aqui é um ensinamento que é sempre atual, nunca envelheceu, nunca foi danificado e sempre acompanhou os tempos e as pessoas também. Sempre ensinou todos nós a termos harmonia e integração como se fôssemos um, com harmonia firme. Por exemplo, ensina a todos nós de uma mesma maneira: aquilo que é ruim, que perturba, não é pacífico, é confuso – somos ensinados a tentar abandonar todas essas coisas.
Depois disso nos ensina a ter sabedoria, a conhecer o que é errado e causa perturbação para os indivíduos e para a sociedade como um todo também. Esses ensinamentos, reunidos, são os pilares do Buddha Sāsanā e se chamam Sīla, Samādhi, Paññā.
Em seguida somos ensinados a pacificar nossa mente. Esta nossa mente aqui, mesmo tendo uma casa enorme para que viva bem, ainda não tem bem-estar, pois ainda está fervendo por causa da confusão, por causa do modo errado de enxergar as coisas. Estou falando sobre a mente de todos nós aqui.
Agora vamos tentar concentrar nossas mentes, unificar a mente com um objeto, o que se chama samādhi. Portanto, prestem atenção no que vou dizer. Fazer nossa mente ter força é diferente de fazer nosso corpo ter força. Para que nosso corpo tenha força temos que correr, nos movimentar, de manhã e à noite. Essa movimentação faz nosso corpo ficar forte. Já a mente, devemos fazer que ela pare e permaneça quieta, fazer que se pacifique. Isso trará energia, a mente terá força, isso se chama samādhi. Fazer a mente entrar em samādhi não acontece instantaneamente, porque desde que nascemos nunca treinamos nossa mente a ficar quieta, nunca treinamos nossa mente a ficar em paz. Nunca fizemos, então não vai ser logo hoje que vamos conseguir pacificar nossa mente. Por isso temos que ter determinação em praticar, quer haja paz ou não. Algumas pessoas, que nunca praticaram, têm medo. Têm medo que fazer a mente se pacificar vá fazê-los ter problemas mentais. Têm medo de ficar loucos e todo tipo de coisa. Por que isso? Porque nunca praticaram, então ficam com medo. Não há nada disso.
Sentem-se da forma que acharem melhor, mas sentem-se em paz. Tenham uma postura pacífica e confortável. Todos fechem os olhos e foquem a atenção na respiração, experimentem. Experimentem focar a atenção na respiração, façam agora. Façam. Quem quiser sentar na cadeira – sente. Quem quiser sentar no chão – sente. Pratique agora mesmo, quando inspirar ou expirar esteja ciente.
Não force a respiração a ser mais rápida ou mais devagar. Não force a respiração a ser mais forte ou mais fraca. Deixe que ela seja natural e tenha apenas ciência da respiração entrando e saindo à vontade. Vocês veem a respiração? Estão cientes dela? Como ela é? Como é “aquele que está ciente?” Vocês enxergam nas suas mentes? Onde está “aquele que está ciente?” Onde está a respiração? Como é a respiração? Foquem dessa forma, estejam cientes. Usem a ciência dessa sensação para acompanhar a inspiração e a expiração, acompanhem a respiração entrando e saindo à vontade. O seu dever neste momento não é grande, basta estar ciente da respiração entrando e saindo. Não precisa pensar: “O que vai acontecer se eu focar a atenção na respiração? Vou saber alguma coisa? Vou ver alguma coisa?” Não é dever de vocês pensarem nisso. O dever de vocês é estarem cientes da respiração entrando e saindo e é só isso.
Normalmente não fazem isso. Há muitos anos, muito tempo, que vêm negligenciando a respiração, não estão cientes de que o ar entra e sai. Hoje que possuem esta oportunidade, observem como ele entra, como ele sai, observem bem. A respiração possui muito valor, é a comida mais importante dentre todas. Se não comermos esse tipo de comida por duas horas é um problema sério; já comida como o arroz, mesmo se não comermos por um ou dois dias, ainda conseguimos sobreviver. A comida da respiração, se faltar por cinco ou dois minutos, não aguentamos. Portanto, a respiração tem valor.
Hoje todos vocês observem em detalhe a respiração. Observem a respiração, não deixem a mente escapar para cima, para baixo, para a esquerda ou para a direita, nem para frente ou para trás. Que a mente esteja ciente somente da respiração na ponta do nariz, só isso. Não pense que ficará com problemas mentais, que ficará louco. Quanto melhor praticar, mais são vai ficar. Vai ficar são, vai se curar de seus problemas mentais. Não pense que será de outra forma.
Pratiquem.
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… É um pouco difícil, é o que chamamos “sentar em meditação.” Não é o caso de que vamos sentar o tempo todo em meditação. Sentamos só o suficiente para que a mente tenha uma fundação, para que ela não tenha confusão. Depois tivemos oportunidade de sentar cerca de trinta ou vinte minutos, sentamos, treinamos, para a mente ter samādhi, ter frescor. Se temos habilidade em meditar, não é difícil, é só sentar por dois minutos e já estamos em paz. Mas nunca cuidamos da mente, há muito tempo que temos deixado ela vagar por todo lado, aí ela vai de acordo com o hábito dela, pois nunca foi treinada. Algumas pessoas nunca treinaram a mente, nunca praticaram, pensam que é trabalhoso, muito difícil. Como na sessão de hoje, algumas pessoas sofreram muito, trocavam de posição o tempo todo, isso é comum, é incômodo e desconfortável porque apenas começamos a treinar.
Algumas pessoas se desanimam pois veem que é difícil e trabalhoso fazer. Aquilo que é difícil é bom fazer. Aquilo que é fácil não vale a pena. Para que limpar onde já está limpo? Já está limpo! Vá fazer limpeza onde está sujo, isso sim é útil. Por exemplo esta casa aqui, antes de virmos praticar meditação aqui, antes de ela ter sido construída, não era possível ficar aqui. Foi necessário trazer madeira, ferro, cimento. Havia uma enorme bagunça bem aqui, não era possível morar aqui. Por quê? Porque a construção ainda não estava concluída. Agora que já terminou, é confortável? Tem algo bagunçado? Isso é porque o cimento foi posto em seu lugar, o ferro foi posto em seu lugar, a madeira foi posta em seu lugar. Não há bagunça alguma. Então é confortável desse jeito. Mas antes era desconfortável este lugar aqui, é assim ou não é?
Isso se compara dessa forma. Nós apenas começamos a praticar. Não só construindo uma casa, mesmo com o estudo, no começo tínhamos preguiça, não é? Não queríamos ir estudar, tínhamos preguiça, pois era difícil. A mãe e o pai tinham que obrigar a ir, não é? Então conseguimos estudar e obtivemos conhecimento e sabemos o valor do estudo. Nós temos que pensar desse jeito, temos que treinar nossa mente desse jeito, aconselhar nossa mente assim para que ela tenha força. Quando formos hábeis, não será mais necessário sentar usando esse método. Poderemos sentar à mesa, na cadeira do trabalho e estarmos cientes, termos sati acompanhando os estados mentais, e a mente conseguirá se pacificar. Pratique até a mente ficar esperta, até a mente ficar hábil, até a mente ser desse jeito. De pé tem essa sensação, deitado tem essa sensação, indo ou vindo tem que ser assim. Ela já alcançou a paz dela.
Algumas pessoas pensam que vão ter que se esforçar desse jeito para sempre, que vai ser trabalhoso e difícil desse jeito para sempre, mas não é assim. Tendo terminado um trabalho, estamos tranquilos. Se ainda não terminamos, não estamos bem. Isso também é assim, não é diferente. Se fosse difícil sem parar desse jeito, eu também já tinha ido embora, também não ia querer. No começo era sofrido, difícil, trabalhoso, hoje não é difícil daquele jeito, já deu resultado. Quando é assim, é só querer e a mente já se pacifica. Onde sentar, fechar os olhos e focar a mente, ela se pacifica. Ela já foi treinada, é fácil. Quando a mente está confusa, sentamos tranquilos assim, e ela se concentra: “pup!” Acabam os problemas. É assim.
Além disso, tendo pacificado a mente, há a contemplação de várias coisas que surgem e desaparecem. No que surge e desaparece não há nada de mais. A alegria surge e num instante desaparece, a tristeza surge e num instante desaparece, não há nada! Mas nós corremos atrás e aí sofremos, viramos escravos disso, só isso. Isso surge e desaparece, surge e desaparece. Quando conhecemos o Darma desse jeito, a mente se pacifica e junto vem a sabedoria. Não há problemas – ou tem, mas são poucos. Não é preciso resolvê-los, eles logo se resolvem sozinhos. Se nossa sabedoria ainda não surgiu, sofremos. Por que sofremos? Nós agimos certo ou errado? Estamos pensando certo ou errado neste momento? Então somos ensinados a não mirarmos no futuro, a largarmos o passado e praticarmos neste momento atual. A mente se pacifica. Ou vocês não concordam?
pags 28 a 30
Ajahn Chah no livro Darma da Floresta – livro em pdf, mobi, epub