E meditação é isto…

“E meditação é isto, e não é sentarmo-nos de pernas cruzadas, ou pormo-nos de cabeça para baixo, ou o que quer que seja, mas sim sentir a totalidade e a unidade da vida. E isso só acontece quando há compaixão, amor. Uma das nossas dificuldades é a de associarmos o amor com o prazer e o sexo, e para a maior parte de nós o amor também significa ciúme, ansiedade, possessividade, apego. É a isto que chamamos amor. Mas o amor é apego? O amor é prazer? O amor é desejo? Amor é o oposto de ódio? Se assim for, então não é amor. Todos os opostos contêm os seus próprios opostos. Quando tento tornar-me corajoso, essa coragem nasce do medo. O amor não pode ter oposto. Não pode haver amor onde há ciúme, ambição, agressividade. Onde há amor, daí nasce a compaixão. Onde há essa compaixão, há inteligência – não a «inteligência» do egocentrismo, ou a «inteligência» do pensamento, ou a «inteligência» de uma grande quantidade de conhecimentos. A compaixão não tem nada a ver com conhecimentos adquiridos. Essa inteligência que dá à humanidade segurança, estabilidade e uma grande energia, só existe quando há amor.”

“A meditação na vida diária é a transformação da mente, uma revolução psicológica que nos leva a viver uma vida – não em teoria, não como um ideal, mas plenamente – com amor por todos os seres, e uma energia que transcende toda a mesquinhez, estreiteza e superficialidade. Quando a mente está em silêncio – verdadeiramente tranquila, não obrigada a aquietar-se pela vontade há nela um movimento, uma atividade totalmente diferente, que não é do tempo. Abordar esse assunto seria absurdo. Seria uma descrição verbal e, portanto, não seria real. O que é importante é a arte da meditação. Um dos sentidos da palavra «arte» é o de pôr tudo no seu lugar certo, na nossa vida diária, de tal modo que não há confusão mas lucidez. E quando no dia a dia há ordem, uma conduta recta e uma mente completamente serena, então esta descobrirá, por si mesma, se o Imensurável existe ou não. Até descobrirmos isso, que é a mais alta forma do sagrado, a vida é monótona, rotineira, sem sentido. E por isso que a meditação correta é absolutamente necessária, para que a mente seja jovem, fresca, inocente. Inocente, no sentido de não ser capaz de ferir ou de sentir-se ferida. Tudo isto está implicado na meditação, que não está divorciada do nosso viver quotidiano, e é indispensável para a compreensão desse viver. Dar completa atenção ao que estamos a fazer – ao modo como falamos com alguém, ao modo como andamos, como pensamos, e também àquilo que pensamos – dar atenção a tudo isso, faz parte da meditação. A meditação não é uma fuga à realidade. Não é uma coisa misteriosa. Da meditação nasce uma vida que é sagrada. E que leva, portanto, a tratar todos os seres como sendo sagrados.”

Krishnamurti

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