Meditação significa pacificar a mente de forma que a sabedoria possa surgir

Meditação significa pacificar a mente de forma que a sabedoria possa surgir. Isso exige que pratiquemos com o corpo e a mente de forma a ver e conhecer as impressões sensuais da forma, do som, do sabor, do toque e das formações mentais. Colocando de modo resumido, é somente uma questão de felicidade e infelicidade. A felicidade é uma sensação agradável na mente, a infelicidade é justamente a sensação desagradável. O Buda ensinou a separar essa felicidade e infelicidade da mente. A mente é aquela que sabe. A sensação [10é a característica da felicidade ou infelicidade, gostar ou não gostar. Quando a mente se entrega a essas coisas dizemos que ela se apega ou assume que essa felicidade e infelicidade merecem ser guardadas. Esse apego é uma ação mental, essa felicidade ou infelicidade é a sensação.

Quando afirmamos que o Buda nos disse para separar a mente da sensação, ele não quis dizer literalmente colocá-los em lugares diferentes. Ele quis dizer que a mente deve conhecer a felicidade e a infelicidade. Quando estamos sentados em samadhi, por exemplo, e a paz preenche a mente, então a felicidade pode vir mas ela não nos atinge, a infelicidade pode vir mas não nos atinge. Isto é o que quer dizer separar a sensação da mente. Podemos compará-lo com a água e óleo numa garrafa. Eles não se combinam. Mesmo se você tentar misturá-los, o óleo permanece como óleo e a água permanece como água. Porque ocorre isso? Porque eles possuem densidades diferentes.

O estado natural da mente não é nem de felicidade nem de infelicidade. Quando uma sensação entra na mente então a felicidade ou infelicidade surge. Se tivermos atenção plena então entenderemos a sensação agradável como sensação agradável. A mente que sabe não irá se agarrar a ela. A felicidade se encontra ali mas está “do lado de fora” da mente, não está enterrada dentro da mente. A mente simplesmente sabe disso com clareza.

Se separarmos a infelicidade da mente, isso significa que não haverá sofrimento, que nós não o experimentaremos? Sim, nós o experimentamos, porém sabemos que a mente é mente e a sensação é sensação. Nós não nos agarramos a essa sensação ou a carregamos conosco. O Buda separou essas coisas através do conhecimento. Ele sofria? Ele conhecia o estado de sofrimento mas não se apegava a ele, dessa forma dizemos que ele extirpou o sofrimento. E também havia a felicidade, mas ele conhecia essa felicidade, quando ela não é conhecida, é como um veneno. Ele não a tomou como parte de si mesmo. A felicidade ali estava através do conhecimento, mas ela não existia na sua mente. Dessa forma dizemos que ele separou a felicidade e a infelicidade da sua mente.

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