Consideremos o processo do sentar em si. O que temos de fazer é estar com o que acontece precisamente agora. Não é necessário que acreditem em mim; podem experimentá-lo por si mesmos. Quando me distraio e divago, afastando-me do imediato, começo na realidade a ouvir o barulho do tráfego. Tomo muito cuidado para não perder um só ruído. Nada. Eu de fato apenas ouço. Isso é tão bom quanto um koan* porque está acontecendo neste exato momento. Portanto, como estudante do zen, vocês têm uma tarefa a cumprir, uma tarefa muito importante: tirar a própria vida do reino dos sonhos onde se encontra e transferi-Ia para a imensa e verdadeira realidade que existe.
Não é uma tarefa fácil. Requer coragem. Só pessoas de muita fibra conseguem efetuar essa prática por tempo ilimitado. Mas não o fazemos apenas para nós mesmos. Talvez no começo, sim; e está certo. No entanto, à medida que nossa vida for ganhando em centração e em contato com as próprias bases, em que se torna real e essencial, outras pessoas irão senti-Ia de imediato e, então, aquilo que somos começa a influir em tudo que existe à nossa volta.
Trecho de Joko Beck em Sempre Zen
*koan da wikipedia:
Um koan (公案; japonês: kōan, chinês: gōng-àn, coreano: gong’an, vietnamita: công án) é uma narrativa, diálogo, questão ou afirmação no budismo zen que contém aspectos que são inacessíveis à razão. Desta forma, o koan tem, como objetivo, propiciar a iluminação espiritual do praticante de budismo zen. Um koan famoso é: “Batendo as duas mãos uma na outra, temos um som; qual é o som de uma mão somente?” (tradição oral, atribuída a Hakuin Ekaku, 1686-1769).