O tempo do outro. Byung-Chul Han

A comunicação humana promove o sentido apenas pelo fato de que ela representa uma forma de conclusão. O ser humano se comunica para escapar à morte e para dar um sentido à vida. O diálogo representa uma forma bela de conclusão. Por isso ele pode promover o sentido. Ele é uma comunicação com um Tu. Também a prece é um diálogo. Deus é, como diria Buber, um Tu eterno. A rede digital não é uma forma de conclusão. Assim, a comunicação digital não é capaz do diálogo. Ela se torna, hoje, mais narcisista, e leva o próprio outro ao desaparecimento. O vazio de sentido faz com que nos comuniquemos sem pausa e sem interrupção. O vazio na comunicação se mostra como a morte que deve se ocultar o mais rápido possível por meio de mais comunicação. Isso, porém, é uma empreitada sem esperanças. Uma comunicação como diálogo que promove o sentido se furta à aceleração. Apenas uma comunicação- do- Isso [Es- Kommunikation] se deixa acelerar sem fim6. O tempo que se deixa acelerar é o tempo- do- Eu [Ich- Zeit]. Ele é o tempo que eu tomo para mim. Ele conduz à falta de tempo. Há, porém, também um outro tempo, a saber, o tempo do outro, um tempo que eu dou ao outro. O tempo do outro como dádiva não se deixa acelerar. Ele também se furta ao trabalho e ao desempenho, que sempre exige o meu tempo. A política temporal do neoliberalismo desfaz o tempo do outro, pois ele não é eficiente. Em oposição ao tempo- do- eu, que isola e singulariza, o tempo do outro promove a comunidade. Apenas o tempo do outro liberta o eu narcisista da depressão e da exaustão. .

Byung-Chul Han em Favor Fechar os Olhos

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