No livro De Olhos Bem Abertos de Mariana Caplan, a autora dedica um pequeno comentário sobre a proliferação de “mestres espirituais”. (Logo abaixo o texto)
Se você acessa o YouTube, por exemplo, e o algoritmo já percebe que sua busca é por ensinamentos sobre autoconhecimento e meditação, uma seleção desses “mestres” começa a surgir. E caso você for olhar os vídeos por alguns minutos já vai ver que ali não existe sabedoria real, só repetição, igual um papagaio, tudo que já foi lido e visto se repete e repete.
Agora, se por acaso o algoritmo começar a te mostrar coisas relacionadas a “espiritual”, aí sim que o senso crítico e a razão serão mais necessários que nunca porque os caminhos do fantástico são sedutores.
Produção em massa de mestres espirituais
Há um grande número de tradições espirituais da moda de nossos dias que produz pessoas que acreditam estar num patamar de iluminação ou domínio espiritual que está muito longe da realidade. Tanto o mundo ocidental quanto o mundo oriental estão superpovoados de mestres medíocres que instruem aspirantes sinceros ao desenvolvimento espiritual num nível que não é exatamente excelente. Essa doença funciona como uma linha de montagem espiritual: faça isso assim ou assado, consiga aquele insight e pronto! – você está iluminado e em condições de ajudar outros a se iluminarem da mesma forma. O problema não é esses mestres instruírem alguém, e sim o fato de se apresentarem como pessoas que alcançaram o domínio do mundo espiritual. Esse pressuposto prematuro não desvirtua somente a própria evolução constante desses mestres; cria entre seus discípulos um conceito extremamente limitado de desenvolvimento espiritual. T.K.V. Desikachar nos dá um conselho: “Em nenhum estágio do caminho do ioga devemos pensar que nos tornamos mestres. Devemos saber – isto sim – que a sensação de estarmos um pouco melhor hoje do que ontem existe tanto quanto a esperança de que estaremos um pouco melhor no futuro.”
Do livro De Olhos Bem Abertos de Mariana Caplan