Esperança e a busca da felicidade por André Comte-Sponville

Só esperamos o que somos incapazes de fazer, o que não depende de nós.

Spinoza tem razão: “Não há esperança sem temor, nem temor sem esperança.”

“quanto mais nos esforçamos para viver sob a conduta da razão, mais nos esforçamos para nos tornar menos dependentes da esperança” Spinoza de novo.

A esperança e o temor não são dois contrários, mas antes as duas faces da mesma moeda: nunca temos uma sem a outra.

“A esperança não passa de um charlatão que nos engana sem cessar; e, para mim, a felicidade só começou quando eu a perdi.” Isso eu sabia perfeitamente não ter inventado. Mas Chamfort prossegue: “Eu colocaria de bom grado na porta do paraíso o verso que Dante colocou na do inferno: Abandonai toda esperança, vós que entrais!”

citação do Samkhya Sutra, que por sua vez citava o Mahabharata, o livro imemorial da espiritualidade indiana: “Só é feliz quem perdeu toda esperança; porque a esperança é a maior tortura, que há, e o desespero, a maior felicidade.

(aqui desespero é falta de esperança e não a conotação que muitas vezes se utiliza)

“Nada desejo do passado. Já não conto com o futuro. O presente me basta. Sou um homem feliz porque renunciei à felicidade.”40 Renunciar à felicidade? É a única maneira de viver: parando de esperar!

Nós nos aproximamos da sabedoria cada vez que somos um pouco mais lúcidos sendo um pouco mais felizes, cada vez que somos um pouco mais felizes sendo um pouco mais lúcidos. Não façamos da sabedoria uma esperança, um ideal que nos separaria do real.

Cristo nunca teve “nem fé nem esperança”, e no entanto ele era “de uma caridade perfeita”! Entendo que se Cristo nunca teve fé nem esperança, conforme São Tomás, é que ele era Deus: Deus não tem por que crer em Deus nem por que esperar o que quer que seja (já que ele é ao mesmo tempo onipotente e onisciente). No entanto, para o ateu que sou, essas frases dão um sentido singular, e singularmente forte, ao que um livro famoso chama, é seu título, “imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Porque o que se trata de imitar em Jesus Cristo não pode ser a fé ou a esperança, já que ele não as tinha; só pode ser o amor.

André Comte-Sponville no livro A Felicidade, Desesperadamente

Deixe um comentário