Trechos do livro A ilusão do Eu de Chris Niebauer

Os trechos abaixo são aleatórios que anotei enquanto lia. Eles são somente para mostrar o teor da leitura:

Mas a ideia de que o self é ficcional não é nova— Buda a expressou mais de 2.500 anos atrás e está mencionada no Tao Te Ching, texto fundador do taoismo, também escrito há mais de dois milênios e meio, bem como nos escritos de certas escolas do hinduísmo, a Advaita Vedanta, por exemplo.

Para compreender essa pesquisa, também é importante saber que o corpo funciona por cruzamento: isto é, todos os dados do lado direito do corpo cruzam para o lado oposto e são processados pelo cérebro esquerdo, e vice-versa. Esse cruzamento também vale para a visão, de forma que a metade esquerda do que vemos vai para o hemisfério direito do cérebro, e vice-versa. Isso só se tornou óbvio após os pacientes com cérebro dividido. A pesquisa com esses pacientes levou a uma das mais importantes descobertas sobre o hemisfério esquerdo do cérebro — algo que ainda não foi completamente valorizado pela psicologia moderna ou pelo público geral. Gazzaniga determinou que o hemisfério esquerdo do cérebro criava explicações e motivos para ajudar a dar sentido ao que acontecia.1 O lado esquerdo agia como um “intérprete” da realidade. Além disso, Gazzaniga descobriu que esse intérprete estava muitas vezes completamente equivocado. Essa descoberta deveria ter abalado o mundo, mas a maioria das pessoas sequer ouviu falar dela.

nosso sistema nervoso é estimulado ou excitado— quando nossa pressão sanguínea sobe e nosso coração bate mais forte—, o intérprete do hemisfério esquerdo inventa uma história sobre a origem desse estímulo, e muitas vezes essa história é completamente falsa.

Esses estudos sugerem fortemente que vivemos nossa vida sob a direção do intérprete, e, para a maioria de nós, a mente é um chefe do qual não estamos sequer conscientes. Podemos ficar com raiva, ofendidos, sexualmente excitados, felizes ou amedrontados, e não questionamos a autenticidade desses pensamentos e dessas experiências. Embora não haja dúvida de que essas experiências estejam acontecendo conosco, de alguma forma ainda retemos a ideia de que controlamos tudo.

Contudo, como muitas pessoas não estão conscientes do intérprete do cérebro esquerdo, elas não conseguem sequer conceber que estão lidando com interpretações; em vez disso, sentem- se convictas de que estão vendo as coisas “como elas realmente são”.

A tendência do self de valer- se de mais pensamentos para defender sua própria imagem é bem conhecida no budismo. Meditadores experientes relatam como, durante a meditação, à medida que a mente começa a se apaziguar e a voz mental passa a falar menos, com frequência emerge uma torrente de pensamentos essenciais para sustentar a autoimagem. É assim que os meditadores identificam que histórias mentais e padrões de pensamento compõem suas preocupações mais prevalentes, uma vez que a mente se põe a reprisar esses tópicos como defesa contra o próprio apaziguamento.

A combinação entre tais estudos em neuropsicologia e os ensinamentos budistas sugere que, quando os padrões do self sentem- se ameaçados ou expostos, o pensamento se altera a fim de apoiar uma nova versão ou reinterpretação de si mesmo.

Criamos uma imagem de nós mesmos, dividimos essa imagem, e então sofremos quando uma imagem imaginária não consegue se colocar à altura da “melhor” imagem imaginária. Queremos ser mais inteligentes, mais atraentes, mais bem- sucedidos etc., e todas essas ideias são nossos “problemas”. A grande tragédia aqui é que nunca percebemos que nenhuma dessas condições jamais será plenamente satisfatória para o self, pois o self precisa continuar a pensar para continuar a existir, e por isso sempre mudará a régua de medição, sempre acrescentará um novo “melhor” que o decepcionará.

O truque é se identificar menos com seus pensamentos, não os levar muito a sério, vê- los como “eventos” e não “a maneira como as coisas são de fato”.

Talvez por isso os antigos filósofos orientais valorizassem a consciência não linguística de um jeito que os ocidentais modernos têm dificuldade de entender. A neuropsicologia está começando a ponderar isso, mas ainda não chegou lá. Considere a seguinte citação do mestre de Advaita Vedanta Nisargadatta Maharaj: “No seu mundo, o não dito não tem existência. No meu, as palavras e seus conteúdos não têm existência alguma… Meu mundo é real, o seu é feito de sonhos”.

Deixe um comentário