P: Você aconselha evitar o prazer e aspirar à dor?
M: Não, nem aspirar ao prazer e evitar a dor. Aceite ambos como eles chegam, aprecie-os enquanto durarem; deixe-os ir quando devem ir-se.
P: Como é possível apreciar a dor? A dor física pede ação.
M: Certamente. E assim é com a mental. A felicidade está na Consciência disto, em não se encolher ou, de qualquer modo, afastar-se dela. Toda a felicidade vem da Consciência. Quanto mais conscientes somos, mais profunda é a alegria. A aceitação da dor, a não resistência, a coragem e a paciência – estas abrem profundas e permanentes fontes de felicidade real. A verdadeira bem-aventurança.
P: Por que a dor deveria ser mais eficaz que o prazer?
M: O prazer é aceito prontamente, enquanto todos os poderes do eu rejeitam a dor. Como a aceitação da dor é a negação do eu, e o eu se interpõe no caminho da verdadeira felicidade, a aceitação total da dor libera o manancial da felicidade.
P: A aceitação do sofrimento age do mesmo modo?
M: O fato da dor é trazido facilmente ao foco da Consciência. Com o sofrimento, não é tão simples. Focar o sofrimento não é suficiente, pois a vida mental, como a conhecemos, é uma contínua corrente de sofrimento. Para alcançar as mais profundas camadas de sofrimento, você deve ir às raízes e desenterrar sua vasta rede subterrânea, onde o medo e o desejo estão intimamente entrelaçados, e as correntes de energia da vida se opõem, obstruem e destroem entre si.
P: Como posso colocar em ordem uma confusão que está inteiramente abaixo do nível de minha consciência?
M: Estando consigo mesmo, com o ‘eu sou’; por observar-se em sua vida diária com um interesse desperto, com a intenção de entender em vez de julgar, na plena aceitação do que quer que possa emergir, porque está aí, você propicia que o profundo saia à superfície e enriqueça sua vida e sua consciência com suas energias cativas. Este é o grande trabalho da Consciência; ela remove obstáculos e libera energias ao compreender a natureza da vida e da mente. A inteligência é a porta para a liberdade, e a atenção alerta é a mãe da inteligência.
P: Uma pergunta mais. Por que o prazer termina em dor?
M: Tudo tem um princípio e um fim, e o prazer também. Não o antecipe e não se arrependa, e não haverá dor. São a memória e a imaginação que causam o sofrimento. Certamente, a dor depois do prazer pode ser devida ao mau uso do corpo ou da mente. O corpo conhece suas medidas, mas a mente, não. Seus apetites são inumeráveis e não têm limites. Observe sua mente com grande diligência, pois aí está seu cativeiro e também a chave para a liberdade.
Nisargadatta Maharaj