A Grande Sabedoria Está Além do Intelecto
O intelecto habitualmente separa o fato do conceito. O budismo Chan ou Zen procura conseguir um estado mental acima da mente perceptiva; quanto mais amplo for o uso de palavras, tanto maior será a tendência para a confusão. Daí, haverem os mestres chineses desenvolvido um sistema de pantomimas e enigmas, ou charadas, que os leigos mistificam. Assim; um dos mestres adotava a técnica de esbofetear o interrogador que lhe perguntasse o que era Chan. Outro limitava-se a levantar o dedo; um terceiro cuspia; tudo isso para ensinar uma doutrina por meio de um gesto, movimento, palavra on som que significasse a natureza transcendental de um simples ato da vida cotidiana. Essa técnica peculiar procura, como resultado final, o desenvolvimento da visão interior, baseada nos ensinamentos de Gautama Buda, que era contrário às especulações intelectuais, comparando-as a um deserto de opiniões; da mesma forma, comparava a Doutrina a uma jangada, feita apenas para atravessar e não para se apegar, carregando-a eternamente. Já Chuang-Tsé dissera: “Lêem-se os livros para procurar a verdade. Encontrada a verdade, desfaze-te dos livros.”
Uma vez que o apego, até mesmo aos ensinamentos do próprio Buda, podia provocar cegueira espiritual, os mestres Zen tinham o máximo cuidado em impedir que qualquer discípulo se afeiçoasse a seus ensinamentos. É por isso que o modo como são apresentados esses ensinamentos parece verdadeiro contra-senso. Por exemplo: um mestre recebeu o pedido de um postulante que desejava ser aceito como discípulo no seu mosteiro, para que lhe fosse ensinada a verdade do Budismo. O mestre respondeu:
– Por que procuras tal coisa neste lugar? Por que caminhas ao léu desprezando o precioso tesouro que tens em casa? Nada tenho para te dar; e que verdade do Budismo desejas encontrar no meu mosteiro? Aqui não ha nada, absolutamente nada!
Com tais palavras “por que desprezas o precioso tesouro que tens em casa”, o mestre do mosteiro apontou que a verdade é encontrada em qualquer lugar e a toda hora; não é algo exterior, fora de nós; ela está onde nós estamos. Portanto, o caso do postulante desejar ser aceito no mosteiro à procura da verdade, na realidade, podia ser uma fuga da realidade de problemas caseiros, cotidianos, e, por isso, o mestre disse: “Nada tenho para te dar.” o mestre apenas apontou, no caso do postulante, onde a verdade podia também ser encontrada.
Trecho de Budismo Psicologia do Autoconhecimento, de Dr Georges da Silva Rita Homenko