Sempre peguei esse livro nas mãos mas nunca lia ele, ficava folheando e abandonava. Talvez por sempre ser atraído por livros com outro tipo de linguagem e escrita.
Agora peguei ele a sério e estou tendo uma grata surpresa. Muito esclarecedor em muitos aspectos.
Se você quer aprender em detalhes a meditação é um livro muito bom.
Se me permite aconselhar algo, tenha um senso crítico quando o autor relata algumas experiências dele, porque são só dele… Afinal, nós queremos ter as nossas…
Trecho:
Pense nas várias situações em que temos a possibilidade de observar algo bem de perto. No campo, um ornitólogo observa de perto com o seu binóculo, tentando ver pequenas listras em asas ou tentando escutar um canto de pássaro. Um chef trabalhando em seu fogão também observa de perto. Todos nós já tivemos vislumbres desses modos de atenção. Alguns de nós, por vocação, podem ter desenvolvido considerável habilidade para isso. O Buda sumarizou esse ideal:
No que é visto, existe apenas o que é visto; no que é ouvido, existe apenas o que é ouvido; no que é sentido, existe apenas o que é sentido; no que é mentalmente percebido, existe apenas o que é mentalmente percebido.[15]
Em outras palavras, basta apanhar o que é apresentado e não confundi-lo com as suas projeções. Não misture com “eu gosto, eu não gosto, estou desapontado, estou eufórico”, todas essas intermináveis associações compulsivas. Atravesse tudo isso. O que é visto apenas veja; o que é ouvido apenas ouça; ao escanear o corpo, apenas sinta; o que é percebido no sexto domínio de experiência, o domínio mental, apenas observe. Há momentos em que o pensamento, a imaginação, a análise e a memória são extremamente úteis. De fato, é uma parte importante de algumas meditações budistas. Mas não é útil quando o pensamento se torna compulsivo. O Buda nos ofereceu alternativas, práticas pertinentes à vida cotidiana. E elas não servem apenas para fugirmos rumo ao deserto e sentarmos sozinho em uma almofada, mas sim para termos uma vida ativa com a família, amigos e colegas –para estarmos no mundo. Essas práticas são especialmente valiosas para se engajar com os outros. A menos que já tenha passado por uma intensa purificação, é provável que, ao encontrar alguém desagradável, você fique chateado ou irritado. A mente parte de um estado de relativa calma, mas então algo nos deixa perturbados. Aquilo que perturba o equilíbrio interior da mente é chamado em sânscrito de klesha, uma aflição mental. Seria bom se pudéssemos simplesmente escolher nunca sermos perturbados por tais aflições, mas não temos a liberdade de suspender imediatamente a obsessão, o ciúme e a raiva. Entretanto, se estamos atentos a uma aflição no instante em que ela surge, não nos fundimos a ela. Podemos vê-la e identificá-la, e temos uma escolha, a possibilidade de responder de um modo não compulsivo. Na ausência de atenção plena, ficamos sem sorte e sem escolhas. Essas compulsões são os mesmos hábitos que nos levaram a confusão, angústia e ansiedade –sulcos na estrada que se tornam cada vez mais profundos.
Trecho de Felicidade genuína: meditação como o caminho para a realização – B. Alan Wallace