Aprendendo mais sobre meditação com Chögyam Trungpa

“A meditação não é um sedativo, é um laxante.” – Chögyam Trungpa

Chögyam Trungpa  tem um livro chamado O Mito da Liberdade e o Caminho da Meditação. Nesse livro ele aborda no início alguns conceitos do budismo e depois ele entra na meditação. Esses conceitos do começa do livro são uma ponte para o que ele vai explicar sobre como vê a meditação. O curioso do livro é que mesmo que você tenha dificuldade com algumas explicações dele no início do livro, as explicações sobre meditação são muito claras e libertadoras.

Libertade essa que quase sempre vem de uma frustração, Chögyam Trungpa me lembra um pouco Krishnamurti, sabe? Ele tira de nós algumas certezas que nos agarramos, no primeiro momento quase sentimos raiva dele, depois vem a libertação. Ele nos provoca, no irrita até, quase debocha de algumas verdades. É maravilhoso se a gente consegue ler com total abertura. Aliás não creio que seja mais possível ler sem essa total abertura, porque para absorver algo é preciso essa inocência total, esvaziar-se e deixar entrar o novo. Se nos fizer sentido, tudo bem, usamos. Se não fizer sentido deixamos lá no lugar de onde veio.

Alguns trechos desse livro altamente recomendável.

“Consideramos qualquer coisa que apareça em nossa vida como algo a consumir. Quando vemos uma bela folha caindo durante o outono, a encaramos como uma presa nossa. Levamos a folha para casa, tiramos uma fotografia ou pintamos um quadro dela ou, ainda, escrevemos em nossas memórias como ela era bonita. Se compramos uma garrafa de coca-cola, achamos excitante ouvir o farfalhar do papel quando a desembrulhamos; o ruído da bebida entornando da garrafa nos provoca uma deliciosa sensação de sede. Em seguida, autoconscientemente, a saboreamos e ingerimos. Finalmente conseguimos consumi-la — que grande feito! Foi fantástico. Trouxemos o sonho para a realidade. No entanto, passado algum tempo, tornamos a ficar impacientes e procuramos alguma coisa mais para consumir.”

“Assim, em vez de tentarmos nos esconder de nossos problemas e de nossas irritações, reconhecemos aquilo que somos. A meditação não deve ser um recurso para nos esquecermos de nossos compromissos profissionais. Na realidade, na prática da meditação em postura sentada, nos relacionamos o tempo todo com nossa vida cotidiana. A prática da meditação traz nossas neuroses à tona em vez de escondê-las no fundo de nossas mentes. Ela nos possibilita lidar com nossas vidas como algo exeqüível. Eu imagino que as pessoas acreditem que, se tivessem possibilidade de se afastar da agitação da vida, poderiam realmente iniciar algum tipo de prática contemplativa no alto das montanhas ou à beira-mar. Contudo, desvencilharmo-nos de nossas vidas mundanas é negligenciar o alimento, o verdadeiro nutrimento que existe entre duas fatias de pão.

Quando pedimos um sanduíche, não pedimos duas fatias de pão; temos algo no meio que é substancial, comestível, delicioso, e o pão o acompanha. Por conseguinte, o nos tornarmos cada vez mais conscientes das circunstâncias da vida, das emoções e do espaço no qual elas ocorrem, pode nos abrir para uma consciência panorâmica ainda mais ampla. A essa altura, desenvolve-se uma atitude compassiva, cordial, é uma atitude de aceitação fundamental de si mesmo, ao mesmo tempo retendo a inteligência crítica. Apreciamos o lado alegre da vida, juntamente com o seu lado doloroso. Lidar com as emoções deixa de ser um problema. As emoções são como são, nem reprimidas, nem favorecidas, mas simplesmente reconhecidas. Portanto a consciência exata dos detalhes leva a uma abertura para a totalidade complexa das situações. Como um grande rio que corre para o oceano, a estreiteza da disciplina leva à abertura da consciência panorâmica. Meditação não é simplesmente sentar-se sozinho numa determinada postura atento às atividades comuns, mas também uma abertura para o meio ambiente no qual esses processos ocorrem. O ambiente passa a ser um lembrete para nós, fornecendo-nos continuamente mensagens, ensinamentos e insights.”

“A prática da meditação baseia-se em largar a fixação dualista, em abandonar a luta do bem contra o mal. A atitude que trazemos à espiritualidade deve ser natural, comum, sem ambição. Mesmo que estejamos criando um bom karma, continuamos ainda espalhando sementes de karma. Portanto, a questão é transcender completamente o processo kármico. Transcender tanto o bom quanto o mau karma.”

“No início a prática da meditação consiste apenas em lidar com a neurose mental básica, com o confuso relacionamento entre nós e nossas projeções, nossa conexão com os pensamentos. Quando uma pessoa é capaz de perceber a simplicidade da técnica sem qualquer atitude especial para com ela, então é capaz de se relacionar também com os seus padrões de pensamento. Começa a ver os pensamentos como simples fenômenos, não importa sejam eles piedosos, maléficos, domésticos ou o que quer que possam ser. Não se relaciona a eles como se pertencessem a uma categoria particular, como sendo bons ou maus; simplesmente os vê como pensamentos apenas.

Quando nos relacionamos obsessivamente com os pensamentos, na realidade os estamos alimentando, pois os pensamentos precisam da nossa atenção para subsistir. Uma vez que passemos a dar atenção a eles e a categorizá-los, eles se tornam muito poderosos. Estamos dando energia a eles, pois não os vemos como simples fenômenos. Tentarmos aquietá-los é outra maneira  de alimentá-los. Por conseguinte, no começo, a meditação não é uma tentativa de atingir a felicidade, nem um esforço para obter calma ou paz mental, embora esses estados possam ser subprodutos da meditação. A meditação não deve ser encarada como um recesso da irritação. De fato, as pessoas sempre descobrem que, quando começam a praticar meditação, todos os tipos de problemas são postos para fora. Todos os aspectos ocultos da nossa personalidade tornam-se visíveis pela simples razão de que, pela primeira vez, estamos nos permitindo ver nosso estado mental tal como ele é. Pela primeira vez não estamos avaliando nossos próprios pensamentos.”

 

PS: depois que eu terminar de editar os arquivos que tenho aqui e terminar a leitura vou postando mais trechos

 

 

 

 

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