Enquanto estamos adormecidos e vivemos num mundo de sonhos, vemos as pessoas e o próprio mundo do mesmo modo como vemos a nós mesmos. No dia em que mudarmos, veremos que mudarão também todas as pessoas que estão ao nosso redor, bem como o momento presente. Então estaremos vivendo num mundo de amor. Aquele que ama acaba sempre vivendo em um mundo de amor, porque os outros não têm outro remédio a não ser reagir conforme o impacto que lhes causamos.
Agora, procure pensar um instante nas pessoas com quem você trabalha e convive, e nos problemas que tem com elas. Sabe qual é a solução? Vou indicar um remédio mágico, que nunca falha: procure renunciar às suas exigências. O mais importante de todos os requisitos para viver o presente, tanto consigo mesmo como com os outros, é renunciar às exigências.
As exigências são a fonte de todos os problemas de relacionamento e convivência. Temos o costume de exigir que as outras pessoas não sejam egoístas, nem pretensiosas, e nos convencemos de que o fazemos por seu “bem”. Mas, se o fazemos por seu bem, por que a atitude dos outros nos incomoda? Não estaríamos projetando sobre elas as coisas que não permitimos a nós mesmos? Não nos enganemos. Temos de dar às coisas o seu verdadeiro nome. Deixando de exigir de nós mesmos, logo deixaremos de exigir dos outros. Saindo dessa programação que nos mantém presos à árvore do “bem e do mal”, começaremos logo a aceitar a realidade, sem preconceitos nem críticas.
Quando nos aborrecemos porque nossos amigos são exigentes, é porque também o somos. Quando nos incomodamos porque eles não reagem, devemos abandonar as nossas exigências e não pedir aquilo que não estão dispostos a fazer nesse momento.
Procuremos compreendê-los e não julgá-los, e esperar que eles saibam por si mesmos como sair de sua passividade. Isso pode ajudá-los, enquanto a nossa exigência não.
Não nos compete apressar os resultados, porque não estamos aqui para mudar o mundo, mas para amá-lo e compreendê-lo. Por acaso o leitor ainda não percebeu que, quando procura alcançar determinado resultado, lutando por ele, acaba procurando por si mesmo? No fundo, o que pretende é ter razão e mostrar isso. Está se esquecendo de que, para cada pessoa, a vida tem reservado um ritmo e uma ocasião. Procure olhar para as pessoas como elas são, respeitá-las, aceitá-las e tratar de compreendê-las, dando-lhes a reação que corresponde a você mesmo: a do amor e compreensão.
Anthony de Mello no livro Auto-libertação
De Mello sempre acertando em cheio. É possível viver em paz com os outros, basta abandonar as nossas expectativas e exigências. O que tentamos fazer é o contrário, no entanto: criamos condições e só quando o outro atender às nossas condições, concordamos em aceitá-lo. Se formos pensar, não faz o menor sentido.
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Gosto demais do jeito que ele usa as palavras, tem me ajudado muito na vida.
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