O Buddha estabeleceu moralidade, concentração e sabedoria como o caminho para a paz, o caminho para a iluminação. Mas, na verdade, essas coisas não são a essência do buddhismo. Elas são apenas o caminho. O Buddha as chamou de ‘magga’, que significa ‘caminho’. A essência do buddhismo é a paz, e a paz surge do conhecimento verdadeiro da natureza de todas as coisas. Se investigarmos de perto, poderemos ver que a paz não é nem a felicidade nem a infelicidade. Nenhuma delas é a verdade. A mente humana, a mente que o Buddha exortou-nos a conhecer e investigar, é algo que só podemos conhecer através da sua atividade. A verdadeira ‘mente original’ não pode ser medida, não pode ser conhecida. Em seu estado natural, é inabalável, imóvel. Quando a felicidade surge, o que acontece é que essa mente se perde numa impressão mental, há movimento. Quando a mente se move assim, o apego e a ligação a essas coisas passam a existir. O Buddha estabeleceu o caminho da prática em sua totalidade, mas ainda não o praticamos, ou se o fazemos, temos praticado apenas no discurso. Nossas mentes e nossa fala ainda não estão em harmonia, nós estamos entregues a uma conversa vazia. Mas a base do buddhismo não é algo que pode ser debatido ou imaginado. A base real do buddhismo é o pleno conhecimento acerca da verdade da realidade. Se alguém conhece essa verdade, então não é necessário nenhum ensinamento. Se alguém não conhece, mesmo que ele ouça o ensinamento, ele realmente não ouvirá. É por isso que o Buddha disse: “O Iluminado apenas aponta o caminho”. Ele não pode fazer a prática por você, porque a verdade é algo que não pode ser colocado em palavras ou dado de presente.
Ajahn Chah