Uma excelente resposta para a questão do medo vinda de um mestre Zen é a que segue abaixo , dentro de sua resposta “Eu concordo, eu concordo” existe muito mais que somente duas palavras. Existe aceitação completa daquilo que é. É bem difícil alcançar isso.
Familiarizando-se com o medo
“Ninguém nos aconselha a parar de fugir do medo. Raramente somos estimulados a chegar mais perto, a simplesmente estar ali, a nos familiarizarmos com ele. Uma vez perguntei a Kobun Chino Roshi, mestre Zen, como era seu relacionamento com o medo e ele respondeu: “Eu concordo, eu concordo”. Entretanto, o conselho que geralmente recebemos nos diz para adoçá-lo, atenuá-lo, tomar um comprimido ou procurar distração. Usar todos os meios para fazer com que ele se vá.
Não precisamos desse tipo de conselho porque nos dissociarmos do medo já é o que naturalmente fazemos. Normalmente, entramos em pânico e perdemos o controle, mesmo diante da mais leve sugestão de medo. Sentimos que ele se aproxima e nos afastamos. É bom saber que agimos assim — não para nos punirmos, mas como uma forma de desenvolver compaixão incondicional. Não há nada mais doloroso que a maneira pela qual enganamos a nós mesmos diante do momento presente.
Às vezes, entretanto, ficamos encurralados. Tudo se desintegra e ficamos sem opções de fuga. Em momentos assim, as mais profundas verdades espirituais parecem muito diretas e simples. Não há esconderijo. Percebemos isso como qualquer outra pessoa o faz — melhor que qualquer outra pessoa. Mais cedo ou mais tarde compreendemos que, embora não possamos fazer com que o medo seja agradável, é ele que acabará por nos colocar diante de todos os ensinamentos que algum dia lemos ou ouvimos.
Portanto, considere-se com sorte na próxima vez em que encontrar o medo, pois é nesse ponto que entra a coragem. Geralmente pensamos que as pessoas corajosas não sentem medo, mas a verdade é que elas estão familiarizadas com ele. Quando éramos recém-casados, meu marido me disse que eu era uma das pessoas mais corajosas que ele já havia encontrado. Quando perguntei a razão disso, explicou que eu era totalmente covarde, mas, mesmo assim, seguia em frente e fazia o que precisava ser feito.
O truque está em continuar explorando e não desistir, mesmo quando descobrimos que algo é diferente do que imaginávamos. Essa descoberta se repetirá inúmeras vezes, pois nada é como imaginamos. Posso fazer essa afirmação com muita segurança. O vazio não é o que pensávamos. Nem a atenção plena, o medo ou a compaixão. Amor, natureza búdica, coragem. Essas palavras são códigos que representam o que não conseguimos compreender intelectualmente, mas que qualquer um de nós pode sentir. São palavras que nos indicam o que a vida realmente é quando deixamos que as coisas se desintegrem e nos permitimos estar ligados ao momento presente.”
Trecho do capítulo Familiarizando-se com o medo do livro Quando Tudo se Desfaz de Pema Chödrön