O caminho do bodisatva – Shantideva (livro)

Depois de uma vez mais enaltecer as vantagens da solidão, Shāntideva começa a considerar dois tópicos que formam o ponto alto de seu ensinamento e que são a essência do caminho do bodisatva: a meditação na igualdade do “eu” e do “outro” e a meditação em se colocar no lugar do outro. Aqui o assunto se torna complexo, já que depende da profunda doutrina da vacuidade. Pois rapidamente torna-se claro que, no caminho do bodisatva, a compaixão não é compreendida apenas como empatia pelo sofrimento dos seres, ou até mesmo uma determinação de fazer algo a respeito desse sofrimento em termos práticos, por mais admirável que essa tarefa possa ser.

No budismo Mahāyāna, a compaixão envolve, por meio da aplicação da sabedoria, o transcender da noção do próprio ego e a compreensão de que, em uma análise final, a barreira existencial que separa o “eu” do “outro” é totalmente irreal, uma simples construção mental. Uma vez que essa barreira tenha sido cruzada e que os bodisatvas compreendam a irrealidade da distinção entre “eu” e “outro”, o sofrimento dos outros torna-se para eles tão real quanto o seu próprio. Na verdade, o sofrimento do outro é o sofrimento do bodisatva, e o desejo de liberá-los, tanto temporariamente quanto definitivamente, torna-se o impulso principal do bodisatva. Essas ideias serão pouco familiares e talvez desconcertantes para muitos leitores, e o significado do texto não é sempre fácil de compreender. Por essa razão, um excerto substancial do comentário tibetano de Kunzang Pelden é oferecido no Apêndice 2, no final do livro. Aqui é suficiente enfatizar que os ensinamentos budistas sobre a compaixão são fundamentados na sabedoria da vacuidade. É daí que eles derivam seu significado e força propulsora, sua validade e ao mesmo tempo sua possibilidade prática.

Aqueles que desejam rapidamente
Servir de refúgio para si próprios e para os outros seres
Devem trocar os termos “eu” e “outro”,
E assim abraçar um mistério sagrado. (8.120)

Essa inversão, possivelmente até o nível em que a dualidade do “eu” e do “outro” tenha sido transcendida, é o ápice da prática do bodisatva e leva-nos à essência da sabedoria budista. É desse ponto que todos os ensinamentos de O Caminho do bodisatva extraem seu significado e onde encontram sua completude. Tudo está condensado em uma única estrofe que Shāntideva proclama com a determinação de um princípio cósmico:

Toda a alegria que o mundo contém
Vem de querer felicidade para os outros.
Todo o sofrimento que o mundo contém
Vem de querer felicidade para si mesmo. (8.129)

Quando nem a realidade nem a não-realidade deixam de se apresentar à
mente, então, na ausência de qualquer outra atitude possível, a mente liberta
de conceitos tranqüiliza-se. [Capítulo 9, estrofe 34]

Livro maravilhoso! Um tanto complicado para entender alguns conceitos, ao menos na minha experiência. Bom seria que leituras preliminares sobre alguns conceitos básicos fosse feita antes de ler. Um site que tem ajudado para consultas é esse: http://studybuddhism.com/pt/budismo-tibetano/sobre-o-budismo

https://kalu.org.br/download/10/primeiro…/shantideva-bodhisatvacharyavatara.pdf

 

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