Se estou sempre a medir-me por vós, a esforçar-me para ser igual a vós, estou então negando a mim mesmo. Por conseguinte, estou criando uma ilusão. Ao compreender que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analiso a mim mesmo, aumentando o meu conhecimento pouco a pouco, ou identificando-me com algo fora de mim mesmo — o Estado, um salvador ou uma ideologia), ao compreender que todos esses processos só levam a mais ajustamento e conflito, abandono toda comparação. Minha mente já não está a buscar. Muito importa compreender isso.
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Mas, estamos continuamente a comparar-nos — com os que são mais inteligentes ou mais ricos, mais intelectuais, mais afetuosos, mais famosos, mais isto e mais aquilo. O “mais” tem um importantíssimo papel em nossas vidas; essa medição de nós mesmos com alguma coisa ou pessoa é uma das principais causas do conflito. Ora, por que é que existe comparação? Por que vos comparais com outrem?
Essa comparação vos foi ensinada desde a infância. Em toda escola, A é comparado com B, e A destrói a si próprio, a fim de igualar-se a B. Quando não se faz comparação alguma, quando não há ideal, nem oposto, nem fator de dualidade, quando não mais lutais para serdes diferente do que sois — que aconteceu à vossa mente? Vossa mente deixou de criar o oposto e se tornou altamente inteligente e sensível, capaz de extraordinária percepção, porquanto todo esforço é dissipação de paixão — a paixão que é energia vital — e nada se pode fazer sem paixão.
Se não vos comparais com outra pessoa, sois o que sois. Pela comparação esperais evolver, tornar-vos mais inteligente, mais belo. Mas, consegui-lo-eis? O fato é o que sois, e quando o comparais, estais fragmentando o fato — o que é desperdício de energia. O verdes o que na realidade sois, sem comparação, vos dá uma tremenda energia para olhar. Quando vos podeis olhar sem comparação, já transcendestes a comparação, e isso não significa que a mente se estagna no contentamento. Vemos, pois, em essência, como a mente desperdiça a energia que é tão necessária para se compreender a totalidade da vida.
Krishnamurti em Liberte-se do Passado