Como uma mãe que cuida de seu filho,
Disposta a arriscar sua própria vida a fim de proteger seu filho único,
Assim, com um coração sem limites, alguém deveria cuidar de todos os seres vivos,
Espalhando todo o mundo com amorosidade sem obstruções.
Em pé ou andando, sentado ou deitado,
Durante todas as horas de vigília
Que se permaneça vigilante a este coração e a este modo de vida
Que é o melhor no mundo.
– do Mettā Sutta, Sutta Nipāta I.8
Esteja Aberto a Emoções Desagradáveis
Então, qual é a primeira ferramenta? A primeira ferramenta é muito difícil de certa forma, como eu já disse algumas vezes antes: ela é aprender a estar aberto àquelas emoções desagradáveis. É um condicionamento muito forte não gostar delas, odiá-las, se desgostar com elas, e assim por diante, porque são desagradáveis quando as experimentamos. Por isso é muito importante aprender a estar aberto a elas, aprender a ser amigável com elas. Temos que aprender a fazer isso gradualmente, suavemente, ternamente em nossa prática.
Conhecer as emoções
O próximo instrumento é aprender a explorar, investigar, descobrir e fazer o possível por conhecer essas emoções. Porque não gostamos delas, porque as detestamos, nunca fazemos um esforço para conhecê-las e para descobri-las. Podemos aprender muito acerca dessas emoções. Uma das coisas que podemos aprender é a ligação entre pensamentos e emoções. Desse modo, vemos como as emoções são criadas, e quando compreendemos e vemos como elas são criadas podemos em grande medida trabalhar com elas, lidar com elas. E quando estamos preparados para aprender com elas, então aprendemos a estar abertos em relação a elas.
Convide as emoções desagradáveis
Outra ferramenta interessante relacionada a isso é que, quando não temos essas emoções, podemos convidá-las e permitir-lhes que venham. É muito interessante que quando as convidamos, elas não vêm. Porque quando as tememos, quando não gostamos delas, damos-lhes mais energia e poder. Então quando estamos abertos, quando as convidamos, o poder e a energia que lhes damos é retirado. Talvez hoje, quando formos meditar, convidemos os monstros de que não gostamos.
Ausência de emoções desagradáveis
Outra ferramenta muito importante é saber quando essas emoções desagradáveis não se manifestam. Ao não gostar delas, o que acontece é que temos medo delas, e por ter medo delas, quando estão ausentes mal percebemos sua ausência. Então, por notar quando elas estão ausentes, aprendemos a ser mais e mais positivos.
Para dar um exemplo prático, quando temos uma dor de dente nós realmente sofremos com essa dor de dente, mas quando não temos uma dor de dente não falamos: “Puxa! Não estou com dor de dente hoje!” Mesmo quando não temos uma dor de dente pensamos que talvez ela virá amanhã! Então é tão bom acreditar que os monstros podem estar ausentes. Então gostaria de enfatizar bastante essa ferramenta, apenas estejam atentos quando as emoções desagradáveis não estiverem presentes quando elas não estiverem presentes. Talvez agora vocês não estejam sentindo essas emoções desagradáveis, então, por favor, saibam que elas não estão aqui agora.
As emoções desprazerosas não nos pertencem
Outra poderosa ferramenta é perceber que essas emoções não nos pertencem. Nós temos um senso de posse até mesmo com essas emoções. Então quando há raiva pensamos que a raiva é nossa. Quando há medo pensamos que o medo é nosso. Como vocês sabem, aquilo que consideramos como nosso, que achamos possuir, não gostamos de soltar.
Essa ideia é apresentada no Dhamma de uma maneira muito interessante, que é aprender a relacionarmo-nos com essas emoções como se fossem nossos visitantes, nossos convidados. Então temos de ser um anfitrião muito bom e muito amigável e só aí é que poderemos aprender verdadeiramente com os visitantes que chegam. Devemos entender que esses visitantes vêm, ficam e vão embora. Assim, quando chegam, devemos dizer: “Bem-vindos! Entrem, por favor, é bom ter-vos aqui, quanto tempo irão ficar? Será interessante ver quanto tempo vocês irão ficar”. E quando eles forem embora, digam: “Adeus, se voltarem serão bem-vindos”. Não é uma bela maneira de nos relacionarmos com os nossos visitantes? Há uma espécie de graça, leveza, alegria, se conseguirmos nos relacionar com estas emoções dessa forma.
Experiencie as emoções sem palavras
Talvez mais uma ferramenta é que quando experimentamos essas emoções nós temos dado rótulos a elas. Às vezes somos condicionados pelos próprios rótulos. Assim, uma ferramenta muito interessante é quando essas emoções vêm, nos relacionarmos com elas, experimentá-las sem o rótulo. Tirem o rótulo e vejam o que vocês estão realmente experimentando. Assim, dando um rótulo nos relacionamos com elas no passado, mas quando tiramos o rótulo estamos realmente experimentando-as no instante do momento. Estamos realmente sendo presentes com a emoção.
Resumo das Ferramentas
Então, deixe-me discorrer mais sobre as ferramentas que apresentei. A primeira é aprender a estar aberto a essas emoções desagradáveis. A próxima é fazer um esforço para aprender sobre elas, experienciá-las. Outra ferramenta é quando elas não estão lá, convidá-las. Outra é quando elas estão ausentes apenas saber que elas estão ausentes. Outra é relacionar com elas sem um senso de propriedade, apenas vê-las com visitantes que vêm e vão. E outra é tirar o rótulo e realmente ver o que de fato você está experienciando.
Desenvolver autoconfiança
Agora, o importante é que quando você descobrir essas ferramentas e quando você souber que elas funcionam, você desenvolve muita autoconfiança para lidar com essas emoções. O maior problema é que não temos autoconfiança, e quando isso acontece de forma a nos fazer sentir derrotados, já nos tornamos vítimas. Assim, quando você tem autoconfiança, então você se abre a elas e alcança um estágio no qual não faz diferença se essas emoções estão lá ou não.
Veja as emoções apenas como elas são
Agora, o que acontece é que quando temos estados mentais agradáveis, emoções agradáveis, nós gostamos deles, damos a eles um sinal positivo. E então tentamos prendê-los, e quando não podemos ter sucesso, mais uma vez há sofrimento. E quando existem emoções desagradáveis, como eu disse, nós não gostamos delas, então damos a elas um sinal negativo. Então, nós podemos relacionar esses estados da mente sem atribuir sinais positivos ou negativos, apenas aprendendo a vê-los como eles são?
Agora, se vocês tem alguma dúvida, por favor, perguntem, especialmente usando questões práticas relacionadas com as ferramentas e talvez suas próprias experiências em trabalhar com elas.
Trecho de O Caminho Gentil da Meditação de Godwin Samararatne: Link https://nalanda.org.br/o-caminho-gentil-da-meditacao