Pergunta: Poderia explicar os dois tipos de meditação analítica?
Resposta: Tanto a meditação analítica quanto a meditação estabilizadora são de dois tipos. No primeiro tipo de meditação analítica, você está meditando sobre um objeto, como quando se medita sobre a impermanência; no segundo, você está motivando sua própria consciência a ser gerada dentro de um estado mental, como quando se cultiva amor meditativamente. Quando medita sobre impermanência ou vacuidade, você as está pegando como objetos de sua mente, mas quando você “medita” sobre fé ou “medita” sobre compaixão, não está meditando sobre fé ou compaixão por meio de reflexão sobre as qualidades delas; ao contrário, você está desenvolvendo sua própria consciência dentro de uma consciência fiel ou compassiva.
Pergunta: Quantos tipos de investigação analítica existem?
Resposta: Dentro dos sistemas budistas existem quatros modos de investigar os fenômenos. O primeiro é olhar para as funções que um objeto apresenta – que o fogo queima ou que a água umedece, por exemplo; o seguinte é investigar por meio da argumentação baseada em prova válida; o terceiro é olhar para a dependência, como na causalidade; e o último é a argumentação de simplesmente olhar a natureza do objeto, de que uma coisa é o que é naturalmente. Acho que há muitos fenômenos que devem ser entendidos no contexto do quarto tipo de indagação racional – de que a natureza de alguma coisa simplesmente é como tem que ser. Ocorre-me que este tipo de argumentação possa ser usado em conexão com o tópico da causalidade cármica; por exemplo, se alguém faz mal a um outro ser, então, porque a natureza daquela ação é trazer mal a um ser senciente, o resultado naturalmente é que o mal retorna para o indivíduo que o praticou. De modo similar, visto que ajudar outro ser senciente tem a natureza de trazer benefício, o efeito que retorna para o indivíduo também é benéfico.
Além disso, se alguém pergunta por que a consciência tem a característica de experimentar objetos ou por que os objetos físicos são materiais, pode olhar para suas respectivas causas substanciais e condições cooperativas, mas quando recua a pergunta mais e mais para trás, é provável que simplesmente seja da natureza da consciência ser uma entidade de experiência. Se alguém postulasse um princípio para a consciência, este postulado ficaria exposto a muito dano pela argumentação; por exemplo: seria absurdo alegar que uma entidade luminosa e cognitiva pudesse ser produzida por alguma coisa que não fosse uma entidade luminosa e cognitiva. Uma vez que existem muitas destas contradições neste postulado, é melhor adotar o postulado de que não existe um começo para a consciência.
Com respeito às partículas de matéria, a consciência pode ser capaz de servir como condição cooperativa no processo de produzir matéria, mas a causa substancial deve ser alguma coisa material, visto que matéria deve ser produzida por algo similar. Considerem, por exemplo, nossa própria galáxia, ou sistema planetário de um bilhão de mundos. Na apresentação tradicional budista existem éons de vacuidade, depois éons de formação, éons de duração e éons de destruição; estas séries de quatro fases seguem-se uma depois da outra, sem cessar, sem fim. Eu me pergunto se as substâncias que produzem as partículas que são os blocos construídos durante o período de formação estão presentes durante os períodos de éons de vacuidade. Talvez as partículas de espaço mencionadas no sistema Kalachakra refiram-se a isto. Mesmo que cinco ou seis bilhões de anos tenham se passado desde o Big Bang, tem que haver uma explicação sobre quais condições causais anteriores deram origem a ele.
De um outro ponto de vista, há iogues que cultivam estados meditativos chamados de totalidade-da-terra, totalidade-da-água, e assim por diante, nos quais tudo que aparece é apenas terra ou apenas água, e assim por diante. Além disso, os fenômenos produzidos através do poder do ioga de fato não têm limite. Por exemplo, embora tenhamos que postular a solidez, as coisas não podem ser postuladas como sólidas em todos os aspectos e em termos de todas as situações; pelo contrário, elas são postuladas como sólidas apenas em relação a uma situação específica.
Do livro O SENTIDO DA VIDA – Sua Santidade, o Dalai-Lama