Aluno: Eu tenho uma força de vontade muito forte e freqüentemente a uso para me induzir a relaxar ou a suportar situações dolorosas. Qual é o lugar, ou a direção ou o uso correto da vontade na meditação?
Rinpoche: Este é o problema. Não há necessidade alguma de vontade na meditação. Comumente, a idéia de exercer a vontade é a de fazer esforço. A maioria das pessoas tem dificuldade em não fazer esforço, em não fazer alguma coisa na meditação.
Mas, a vontade não ajuda; a mente é sensível e não pode ser forçada. Quando tentamos forçar a mente, atrapalhamos a nossa meditação.
Aluno: Então, como é que tentamos?
Rinpoche: Traga mais leveza para a sua meditação. Então, quando alguma dor ou auto-imagem ou qualquer outra coisa o incomodar, será mais fácil transcendê-la. Quando sua meditação tem uma qualidade pesada, “voluntária”, talvez não lhe seja possível progredir. 0 pesado é querer que alguma coisa seja de um certo modo. Queremos uma determinada condição, sentimento, bom material, identidade — um pequeno ninho. Queremos estar em um certo lugar, e este querer tem uma qualidade pesada. É limitado, estreito, específico; ele é confinado por identidades e, conseqüentemente, o ego também está envolvido nisso. A leveza é transparente, como um cristal. Não tem um lugar particular, não pertence a lugar algum. A leveza é livre, como o Sol. Na meditação, não há ciência de sujeito nem de objeto. Não pode haver vontade, pois não há mais ninguém para segurar-se a coisa alguma. Não há orientação subjetiva. O sujeito e transcendido; tudo o que sobra é a meditação; apenas a experiência. Tente desenvolver este tipo de atitude.
Aluno: A esta altura, a meditação formal é necessária? Quando não há nem sujeito nem objeto, tudo deve ser meditação.
Rinpoche: Quando sua vida fica livre de problemas e você está sempre em estado meditativo, então a meditação formal não é tão importante. Você, aí, fica livre de pensamentos conflituosos, livre de emoções, livre de identidade. No entanto, ao mesmo tempo, consegue agir de forma eficaz. Isto é conhecimento meditativo, que é diferente do conhecimento comum.
Para adquirir conhecimento comum, precisamos sempre fazer esforço. Se tentamos, aprendemos e, então, vivemos a experiência. Mas, na meditação, embora seja preciso fazer algum esforço no início, uma vez que se entra nela, não há necessidade de mais nenhum esforço. E por isto que usamos a palavra “ser”…
porque “ser” significa que nós somos a meditação. Uma vez em meditação, o próprio tempo é transcendido. Não há passado, não há futuro, nem mesmo o presente.
Aluno: É realmente possível chegar a um lugar onde não exista o tempo?
Rinpoche: Sim. Assim que você consegue ficar no espaço entre os pensamentos, o tempo não existe.
Aluno: E quando a gente sai e se movimenta no mundo, o tempo ainda continua não existindo?
Rinpoche: Quando você se movimenta, talvez seja diferente. O movimento o traz de volta ao mundo relativo, de volta aos pensamentos, onde o tempo novamente existe.
Aluno: Mas diminui nossa ansiedade saber que podemos sempre estar num lugar onde não existe o tempo, não é assim? Mesmo que nos movimentemos por aí, não há a mesma premência ou dor ou emoções, não é mesmo?
Rinpoche: Às vezes podemos ter o que se chama uma experiência mística. Então, pode ser que apareça uma luz especial. Aí, não há tempo; todos os conceitos comuns são transcendidos.
Aluno: Eu vejo isto acontecer por breves momentos durante a meditação. Mas estou querendo dizer no curso da vida.
Rinpoche: A meditação é um tempo no curso da vida. Está acontecendo dentro desta vida. Mas podemos expandir esta compreensão; podemos ampliar nossa experiência e fazer menos esforço. Então, é possível termos esta experiência da meditação em qualquer momento.
Tarthang Tulku em Expansão da Mente