Nossos sentidos são filtros através dos quais percebemos nosso mundo; quando estão amortecidos, não conseguimos experimentar a riqueza da vida, nem nos aproximar de uma verdadeira felicidade. A fim de tocar nossos sentidos, temos que entrar em contato com as sensações e sentimentos da nossa experiência.
Precisamos diminuir o ritmo, escutar e sentir os tons e vibrações que nossas sensações e sentimentos estão tentando nos comunicar; então, poderemos aprender como tocar — tocar grosseiramente, tocar delicadamente. Cada sentido é dotado de qualidades físicas mas, com freqüência, não estamos plenamente cientes delas. Podemos começar a aumentar nossa atenção pura em relação aos sentidos, aprendendo a relaxar e a ser mais abertos. Nossos sentidos são alimentados quando ficamos tranquilos e relaxados. Podemos vivenciar cada sentido, saboreando sua essência. Para fazer isto, toque um dos aspectos dos sentidos e, então, deixe a sensação se ampliar. À medida que passamos para um nível ainda mais profundo, podemos intensificar e fruir os valores e a satisfação que aí encontramos. Assim como organismos diferentes têm estruturas diferentes, o mesmo acontece com os sentidos. Há várias camadas em nossa experiência dos sentidos, camadas que são reveladas quando estamos relaxados, não apressados, atentos.
A meditação, que nos encoraja a desenvolver uma qualidade viva de escuta, nos fornece um meio de explorar estas camadas. Usando os instrumentos da presença mental e da concentração, podemos aprender a remover a tensão e deixar nossa energia fluir por todo o corpo. O verdadeiro relaxamento é mais do que um momento agradável ou um simples repouso; significa ir além da forma física e abrir completamente todos os sentidos. Ter esta experiência é como tomar um banho refrescante dentro dos nossos corações. Podemos estimular esta abertura e relaxamento visualizando um espaço vasto, aberto, e pensando em todos os objetos externos, bem como em nosso corpo, como fazendo parte deste espaço, tudo dentro do momento imediato; Ao final, nenhuma barreira remanesce. 0 que resta é uma atenção pura mais elevada, viva e regeneradora, que nos oferece calor e alimento. Podemos permanecer dentro deste espaço, dentro desta atenção plena, tanto tempo quanto quisermos, sem precisar focalizar ou manter nossa atenção em um objeto qualquer. Tudo o que precisamos trazer para a meditação somos nós mesmos, pois o nosso corpo e mente constituem a base da meditação. A respiração, que funciona como uma coordenadora do corpo e da mente, é a essência do ser que os integra. À medida que meditamos, a respiração se torna tranquila e regular, o corpo relaxa, e toda a energia do corpo e da mente ganha vida. Isto favorece uma atitude mental positiva, pois, quando o corpo e a respiração estão estáveis, é mais fácil relaxar a mente e acalmar as emoções. É conveniente considerar o corpo como a âncora dos sentidos e da mente; eles são todos inter-relacionados. Sinta todo o seu corpo físico. Deixe sua respiração se tornar relaxada e tranquila. Quando seu corpo e sua respiração ficam muito quietos, você pode sentir uma sensação muito leve, quase com o voar, que traz consigo uma qualidade fresca e viva. Abra todas as suas células, até mesmo todas as moléculas que compõem seu corpo, desabrochando-as como pétalas. Não segure nada: abra mais do que o seu coração; abra todo o seu corpo, cada átomo dele. Então, pode brotar uma experiência bonita que tem uma qualidade para a qual você pode voltar muitas e muitas vezes, uma qualidade que irá regenerá-lo e sustentá-lo. Quando você toca sua natureza interior desta maneira, tudo se torna silencioso. Seu corpo e mente fundem-se em pura energia; você se torna realmente integrado. Benefícios enormes decorrem desta união, inclusive grande alegria e sensibilidade. A energia que flui dessa abertura cura e nutre os sentidos: eles se preenchem de sensações, abrindo-se como flores. Quando nossa mente e nosso corpo se tornam unos, podemos entender o silêncio e o vazio; conhecemos satisfação porque nossas vidas estão equilibradas. As raízes de nossa tensão são cortadas, de modo que nosso conflito interno cessa; nós nos tornamos muito serenos e preenchidos. Quanto mais exploramos a intensificação dos sentidos, tanto maior a profundidade que encontramos dentro dos nossos sentimentos. As sensações ficam mais ricas, dotadas de texturas e nuances sutis, e de uma alegria mais intensa. Não temos que aprender técnicas exóticas para enriquecer nossas vidas. Uma vez que contatam os esse sentimento intensificado dentro de nós, e nos sustenta ao longo do nosso cotidiano — ao caminhar, ao trabalhar, ao realizar qualquer atividade.
A prática diária significa que persistimos no esforço para continuar a desenvolver nosso equilíbrio interior tanto quanto possível, onde quer que estejamos e qualquer que seja a nossa atividade. Gradualmente, incorporamos esse sentimento aos nossos pensamentos e à nossa atenção plena. É como um condimento que dá sabor às nossas vidas. Nossa mente, corpo e sentidos tornam-se muito vivos, como se possuíssem uma inteligência natural própria. Até mesmo mudanças fisiológicas podem ocorrer. Portanto, desfrute essa efervescência de vida, em que cada momento é como um renascer; saiba apreciá-la e tenha confiança.
Tarthang Tulku em Expansão da Mente