Mas, como fazemos para aplicar os conceitos altamente abstratos do Dharma às nossas vidas? A resposta se encontra na meditação. Não é que vamos pensar sobre estes conceitos em nossa meditação, mas, sim, que, por meio da meditação, chegamos a compreensões que nos ajudam a integrar os ensinamentos às nossas vidas. Somos inspirados a estudar estes ensinamentos para obter novos insights e aplicações. A meditação também usa estas mesmas compreensões para nos ajudar a entrar em contato com uma atenção pura interior, que podemos usar diretamente. Conforme aprendemos a fazer uso desta atenção pura, a barreira aparente entre a meditação e a nossa mente samsárica se desfaz.
A mente é muito mais do que simplesmente o órgão em que o pensamento ocorre. Sob um aspecto, a mente é o meio pelo qual desenvolvemos a meditação. Num sentido mais amplo, a natureza da mente é a meditação. A meditação é o processo de se trabalhar com o nível de mente que estamos experienciando, seja ele qual for.
0 nível mais profundo é o da experiência direta. Ele imediatamente dá lugar à formação de imagens, e estas, por sua vez, levam à interpretação dos conceitos. Este último nível, de interpretações e conceitos, é o que geralmente consideramos como a base da nossa realidade; mas, na verdade, estes conceitos são de “segunda mão” — estão muito afastados da experiência direta. No nível dos conceitos e idéias, nós nos focamos nos significados, procurando, às vezes, por significados atrás dos significados. Esta busca de significados é como perseguir palavras num dicionário — uma palavra é explicada por outras palavras, que são explicadas por outras, e assim por diante. Mas, um significado,
em si mesmo, não é nada; só tem valorem relação a outros significados. Passar de conceito em conceito, cada qual criado pelo que veio antes, é uma caçada que desperdiça tempo e energia.
Vistos desta forma, os significados assemelham-se ao samsara — palavra que sugere o movimento circular de uma roda que gira constantemente. Não poderemos nunca nos libertar, até que compreendamos a inutilidade fundamental de perseguirmos este ciclo. Quando vemos que não temos que atribuir significados a coisa alguma, quando permitimos que as coisas sejam simplesmente o que são, descobrimos nelas sua natureza intrínseca.
Tarthang Tulku em Expansão da Mente