Estava com saudades de Anthony de Mello, alguns desses mestres me causam esse sentimento de saudade de um amigo querido.
NÃO SE PRENDA
O que está faltando para que você desperte? Por certo não falta esforço, nem juventude, nem meditar muito. Só falta mesmo uma coisa: a capacidade de pensar em algo novo, de ver alguma coisa nova, de descobrir o desconhecido. A capacidade que nos permite atuar fora dos limites estabelecidos, de saltar para além desses limites e observar, com olhos novos, a realidade que não muda.
Aquele que pensa como marxista não pensa; o que pensa como budista não pensa; quem pensa como muçulmano não pensa… e até quem pensa como católico, tampouco pensa. Todos eles são pensados por sua ideologia. São escravos, porquanto não podem pensar acima e além dessas ideologias. Vivem dormindo e pensando por meio de ideias pré-concebidas.
O profeta, por outro lado, não se deixa levar por qualquer ideologia, e por isso é tão mal recebido. O profeta é o pioneiro, que se atreve a colocar-se acima dos esquemas vigentes, abrindo novos caminhos.
A Boa Nova foi rejeitada porque os homens de Israel não queriam a libertação pessoal, mas um caudilho que os guiasse. Não temos coragem de voar por nossos próprios meios. Temos medo da liberdade e da solidão, e preferimos ser escravos de determinados esquemas sociais. A eles nos prendemos voluntariamente, atando-nos a pesadas correntes, e depois nos queixamos de não ser livres. Quem poderá nos libertar, se nós mesmos não temos consciência das cadeias que nos prendem?
As mulheres prendem-se aos maridos e aos filhos. Os maridos, às esposas e aos negócios. Todos nos deixamos prender, e nosso argumento, a justificativa que usamos, é o amor. Mas, que amor? A realidade é que só amamos a nós mesmos, e com um amor adulterado e raquítico, que envolve apenas o “eu”, o próprio ego.
Nem ao menos somos capazes de amar a nós mesmos em liberdade. Então, como vamos saber dar amor aos outros, mesmo sendo nossos cônjuges ou nossos filhos? Todos nos acostumamos à prisão das coisas antigas, e preferimos dormir, para não descobrir a liberdade inerente ao que é novo.
Anthony de Mello em Auto-libertação