Anthony de Mello sobre despertar

Anthony de Mello no livro Guia Para Águias Que Acreditam Ser Frangos:

Sabe qual é um sinal de que você despertou? É quando você se pergunta: “Será que eu enlouqueci ou será que todos eles estão loucos?”. Verdade. Porque somos todos loucos. O mundo inteiro é louco. Somos todos lunáticos, e com certificado! A única razão pela qual não estamos trancados em uma instituição é que somos em número muito grande. Portanto, somos loucos. Vivemos com ideias malucas sobre o amor, relacionamentos, sobre a felicidade, sobre a alegria, sobre tudo. A meu ver, chegamos a um tamanho grau de loucura que se todo mundo concorda com alguma coisa, então pode ter certeza de que essa coisa está errada! Toda ideia nova, toda grande ideia, quando apareceu pela primeira vez, era apoiada por uma minoria de uma só pessoa. Aquele homem chamado Jesus Cristo – era minoria de um só. Todo mundo afirmava algo diferente do que ele dizia. Buda – também, minoria de um só. Todo mundo afirmava algo diferente do que ele dizia. Acho que foi Bertrand Russell quem disse: “Toda grande ideia começa como uma blasfêmia”. Muito bem dito e muito exato. Pelo fato de serem loucas, as pessoas se comportam como lunáticas: e quanto mais cedo você enxergar isso, melhor para sua saúde mental e espiritual.”

Na maioria dos casos a palavra não quer dizer muito sobre o que a pessoa quer apontar. Nós fazemos isso com palavras, usamos elas como achamos apropriado. Nós “amamos” um sanduíche de lanchonete fast-food, veja só, amamos… igual o sentimento que temos por aqueles que amamos temos pelas coisas, ou estamos só usando as palavras?
Com a palavra despertar parece que tem ocorrido o mesmo. Já não gosto mais de usar ela. Em 1988, pra citar um ano sem internet, se alguém perguntasse o que “O Buda” significava a resposta mais comum seria “aquele que está Desperto, O Desperto, Aquele que acordou do sonho” que é o que hoje se pode ver na wikipedia por exemplo: Buda (sânscrito-devanagari: बुद्ध, transliterado Buddha, que significa “Desperto”,[1] do radical Budh-, “despertar”) é um título[2] dado na filosofia budista àqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a divulgar tal descoberta aos demais seres. “A verdadeira natureza dos fenômenos”, aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais.

Por a “A verdadeira natureza dos fenômenos” parece que as pessoas estão tomando como A Verdade, ou melhor, A Minha Verdade conveniente. Então você pode ver por aí frases como “você que está Desperto sabe muito bem que a Rainha da Inglaterra é um alien que quer governar o mundo e tem vida eterna…” estou usando um exemplo radical, mas é isso que se nota. Subentende-se disso que “a minha verdade é igual a estar desperto, se você não concordar é por que ainda está dormindo”

E parece que vai piorar, num dado momento talvez poderemos ver produtos com o termo Desperto, o tempo vai dizer. YouTubers, palestrantes, mestre auto intitulado, escritores, etc se dizem despertos, criam cursos despertos, vendem o termo. Ora, alguém tão inserido nesse consumismo estaria mesmo Desperto? Ou estaria somente a continuar sua participação na nossa loucura diária com novos termos da moda? É preciso questionar o uso da palavra porque senão é assim que a palavra vai perdendo o significado e confundindo. Esse talvez seja o maior desafio do mundo conectado: fazer a filtragem nesse mar gigantesco de informação.

Ou você pode ir mais fundo, pensar como um daqueles mestres Zen e se questionar, a palavra Lua é a Lua? A palavra é a coisa que tenta descrever ou é só uma sinalização? O próprio Buda, aquele que é o Desperto nos aconselha:

“Então como eu disse, Kalamas: ‘Não se deixem levar pelos relatos, pelas tradições, pelos rumores, por aquilo que está nas escrituras, pela razão, pela inferência, pela analogia, pela competência (ou confiabilidade) de alguém, por respeito por alguém, ou pelo pensamento, “Este contemplativo é o nosso mestre.” Quando vocês souberem por vocês mesmos que, “Essas qualidades são hábeis; essas qualidades são isentas de culpa; essas qualidades são elogiadas pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao bem e à felicidade” – então vocês devem entrar e permanecer nelas.’ Assim foi dito. E em referência a isso é que foi dito. (Kalama Sutta)

É isso. É necessário saber por si mesmo.

(E.)

Ps’ desculpa o textao

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