O homem verdadeiramente grande – Chuang-Tzu

“Por conseguinte, o homem verdadeiramente grande não injuria os outros e não se crê caridoso e misericordioso. Ele não procura ganho, porém não despreza os servos que o fazem. Não luta pela riqueza, porém não dá grande valor à sua modéstia. Não pede auxílio de ninguém, mas não se orgulha de sua auto– segurança, nem despreza os ambiciosos. Age diferentemente da multidão comum, mas não dá grande valor em ser diferente ou excêntrico; nem porque age com a maioria, despreza os que lisonjeiam alguns. Os títulos e os proveitos do mundo não lhe são motivo de alegria; seus castigos e vergonha não são causa de desgraça. Sabe que o direito e o errado não podem ser distinguidos, que o grande e o pequeno não podem ser definidos.”

“Mas o que é o homem verdadeiro? O verdadeiro homem de antigamente não se aproveitava do fraco, não atingia seus fins pela força bruta, e não reunia ao redor de si os conselheiros. Assim, falhando, não tinha motivo para arrependimentos; sendo bem sucedido, nenhuma causa para satisfação própria. E podia subir a alturas sem tremer, entrar na água sem molhar-se e passar pelo fogo sem queimar-se. Eis a espécie de conhecimento que chega às profundezas de Tao. Os verdadeiros homens de antigamente dormiam sem sonhos e acordavam sem preocupações. Comiam indiferentes ao paladar e aspiravam fundamente o ar. Porque os verdadeiros homens aspiram o ar até os calcanhares; os vulgares até, apenas, a garganta. Da boca dos perversos as palavras são expelidas como vômitos. Quando as afeições do homem são profundas, seus dons divinos são superficiais. Os verdadeiros homens antigos não sabiam o que era amar a vida ou temer a morte. Não se alegravam pelos nascimentos nem se esforçavam para evitar a dissolução vinham sem preocupações e partiam sem preocupações. Era tudo. Não se esqueciam de onde tinham surgido, mas não procuravam indagar quando voltariam para lá. Alegremente aceitavam a vida esperando pacientes pela redenção (o fim). Eis o que se chama não desencaminhar o coração de Tao, e não suprir o natural por meios humanos. A um homem desses chamar-se-ia com razão um homem verdadeiro.”

Do livro Os Escritos de Chuang-Tzu

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