Quando sua percepção sensorial entra em contato com os objetos dos sentidos e você vivencia um prazer físico, aproveite esse momento o máximo possível. Mas, se a experiência do contato de sua percepção sensorial com o mundo dos sentidos o amarra, se quanto mais você observa o mundo sensorial, mais difícil ele se torna, ao invés de ficar ansioso: “Eu não posso controlar isso”, é melhor fechar os seus sentidos e silenciosamente observar a própria percepção deles.
Da mesma forma, se você estiver preso pelos problemas que as idéias criam, em vez de tentar cessar esses problemas se atendo a alguma outra idéia, o que é impossível, investigue silenciosamente como as idéias lhe causam problemas.
Em certos momentos uma mente silenciosa é muito importante, mas “silenciosa” não significa fechada. A mente silenciosa é uma mente alerta, desperta. Uma mente que procura a natureza da realidade. Quando os problemas no mundo dos sentidos o incomodam, a dificuldade surge da sua percepção sensorial e não dos objetos externos que você percebe. E quando os conceitos o incomodam, isso também não surge de fora, mas da sua mente que se agarra a conceitos. Portanto, em vez de tentar cessar os problemas emocionalmente, agarrando-se a novos objetos ou idéias, verifique silenciosamente para ver o que está acontecendo em sua mente.
Não importa o tipo de problema mental que você vivencie, em vez de ficar nervoso e temeroso, sente-se, relaxe e fique o mais silencioso possível. Dessa maneira você vai conseguir, automaticamente, enxergar a realidade e compreender a raiz do problema.
Quando vivenciamos problemas, interiores ou exteriores, nossa mente limitada, inábil, só os faz piorar. Quando alguém com uma doença de pele sente prurido e se coça, sente um alívio temporário e pensa que houve melhora. Na verdade, o coçar o deixou pior. Nós somos assim, fazemos a mesma coisa todos os dias de nossas vidas. Em vez de tentar cessar os problemas dessa forma, deveríamos relaxar e confiar em nossa mente hábil, silenciosa. Mas silenciosa não significa escura, inoperante, lenta ou dormente.
Então, agora, apenas feche seus olhos por cinco ou dez minutos e olhe de perto para o que você considera que seja o seu maior problema. Desligue sua percepção sensorial o máximo que puder, permaneça em silêncio absoluto e com o conhecimento-sabedoria investigue sua mente a fundo.
Onde você mantém a idéia de “meu problema”? Está em seu cérebro? Em sua boca? Em seu coração? Em seu estômago? Onde está essa idéia? Se você não puder encontrar o pensamento de “problema”, não intelectualize, simplesmente relaxe. Se os pensamentos tristes, ou as idéias más surgirem em sua mente, apenas observe como elas vem e vão. Não reaja emocionalmente.
Praticando dessa maneira, você pode ver como a mente fraca, inábil, não consegue enfrentar problemas. Mas sua mente silenciosa, de sabedoria habilidosa, pode enfrentar qualquer problema corajosamente, pode dominar o problema e controlar todos os estados emocionais e agitados da mente.
Não pensem que o que estou dizendo é uma idéia Budista, idéia de algum lama tibetano. Ela pode se tornar a vivência verdadeira de todos os seres vivos em todo universo.
Eu poderia dizer-lhes muitas palavras, muitas idéias, na minha palestra de hoje, mas eu acho que é mais importante partilhar com vocês a experiência silenciosa. Isso é mais realista do que qualquer quantidade de palavras.
Quando você investiga sua mente de forma minuciosa, você pode ver claramente que os pensamentos tristes e felizes vêm e vão. Além disso, quando você investiga profundamente, eles desaparecem por completo. Quando você se preocupa com uma experiência, você pensa: “Eu nunca vou esquecer essa experiência”, mas quando você verifica habilmente, ela desaparece automaticamente. Essa é a experiência silenciosa da sabedoria. É muito simples, mas não apenas acredite em mim, experimente você mesmo.
Na minha experiência, uma palestra silenciosa vale mais a pena do que muitas palavras e nenhuma vivência. Na mente silenciosa você encontra a paz, a alegria e a satisfação. A alegria silenciosa interior é muito mais durável do que o prazer de comer chocolate e bolo. Esse prazer é apenas um conceito também.
Quando você desliga a sua percepção sensorial superficial e investiga sua natureza interior, você começa a despertar. Por quê? Porque a percepção sensorial superficial o impede de ver a realidade de como o pensamento discursivo vem e vai. Quando você desliga seus sentidos, sua mente torna-se mais consciente e funciona melhor. Quando seus sentidos superficiais estão ocupados, sua mente fica escura, preocupada com a maneira como os sentidos estão interpretando as coisas. Então você não consegue ver a realidade.
Conseqüentemente, quando você é amarrado por idéias e pelo mundo dos sentidos, em vez de se incomodar, pare sua percepção sensorial e preste atenção, silenciosamente, à sua mente. Tente estar totalmente desperto em vez de ficar obcecado com apenas um átomo. Sinta a totalidade em vez das particularidades.
Você não pode determinar por si mesmo a maneira como as coisas devem ser. As coisas mudam por sua própria natureza. Como você pode amarrar qualquer idéia? Você percebe que não pode.
Quando você investiga a maneira como pensa: “Por que eu digo que isto é bom? Por que eu digo que aquilo é ruim?”. Você começa a ter respostas reais sobre como a sua mente funciona de verdade. Você pode ver como a maioria das suas idéias são bobas, mas como sua mente as faz importantes. Se você verificar corretamente, poderá ver que essas idéias não são realmente nada. Verificando assim, você acaba com nada em sua mente. Deixe sua mente repousar nesse estado de nada. É tão calmo, tão alegre. Se você puder sentar todas as manhãs, com a mente silenciosa, por apenas dez ou vinte minutos, você vai gostar muito. Você conseguirá observar o movimento das suas emoções momento a momento sem ficar triste.
Você também verá o mundo exterior e as outras pessoas de uma forma diferente. Você não as verá como estorvos em sua vida e elas nunca o deixarão inseguro. Conseqüentemente, a beleza vem da mente.
Então, essa era a experiência do silêncio. Mas se houverem perguntas, teremos uma sessão de perguntas e respostas. Você pode discutir o que eu estive dizendo através da sua própria experiência. Observar e investigar sua mente é simples, muito simples. Constantemente, onde quer que você vá, a qualquer momento, você pode vivenciar essa energia. Está sempre com você. Mas o chocolate não está sempre com você; quando você o quer, não tem e quando não o quer, lá está ele.
A alegria da experiência silenciosa vem da sua própria mente. Conseqüentemente, a alegria está sempre com você. Quando quer que você precise, ela está sempre lá.
De qualquer forma, se houver perguntas, perguntem por favor, embora uma resposta da mente silenciosa seja sempre melhor do que muitas palavras. Existem tantos pontos de vista e tantas filosofias, em vez de ajudar, às vezes causam mais confusão. Algumas palavras em inglês podem significar mais de vinte coisas.
Trecho de A Quietude Pacífica da Mente Silenciosa de Lama Yeshe