Meditação sobre o Som
Antes de iniciar esta instrução é importante, eu penso, compreender a diferença entre Hospedeiro e Convidado. No Śurangama Sūtra, Ārya Ajnatakaundiniya pergunta: “Qual a diferença entre estabelecido e transitório?” Ele responde dando o exemplo de um viajante que faz uma parada em um hotel. O viajante se alimenta, dorme e, então, continua no seu caminho. Ele não para e se fixa na hospedaria. Apenas paga sua conta e vai embora retomando sua jornada. E o que dizer sobre o dono da hospedaria? Ele não vai a nenhum lugar, mas continua residindo na hospedaria porque é lá o seu lugar. “Eu digo, portanto, que o transitório é o hospede e o dono da hospedaria é o hospedeiro”, diz ĀryaAjnatakaundiniya. E, assim, identificamos a miríade de pensamentos do ego, pensamentos que surgem e desaparecem no fluxo da consciência, como viajantes transitórios que vêm e vão, e que não deveriam ser detidos com exames discursivos. Nossa Natureza de Buddha é o hospedeiro que deixa os viajantes passarem sem obstáculo. Um bom hospedeiro não prende seus convidados com conversa inútil quando já estão prontos para partir. Dessa forma, assim como o hospedeiro não faz as malas e vai embora junto com os seus convidados, nós não deveríamos seguir nossos pensamentos transitórios. Deveríamos simplesmente deixá-los passar, sem obstrução. Muitas pessoas esforçam-se em esvaziar a sua mente de todos os pensamentos. Isso é a sua prática de meditação. Elas tentam não pensar. Elas pensam e pensam: “Eu não pensarei”. Esta é uma técnica muito difícil que não é recomendada para iniciantes. De fato, o estado de “não-mente” que buscam é um estado espiritual avançado. Há muitos estados espirituais que devem precedê-lo. O progresso no Ch’an é mais como tentar subir uma alta montanha. Começamos na base. Qual é o nosso destino? Não o topo, mas meramente nossa primeira base, o Acampamento 1. Após termos lá descansado, retomamos nossa subida, mas, novamente, nosso destino não é o topo, mas meramente o Acampamento 2. Seguimos para o topo somente a partir de nosso Acampamento final. Ninguém jamais sonharia em tentar escalar o Monte Evereste numa rápida subida. E o topo do Ch’an é mais alto do que o Evereste! Ainda assim, no Ch’an, todos querem começar pelo fim. Ninguém quer começar pelo começo. Se os iniciantes pudessem tomar um avião até o topo eles iriam, mas, então, não estariam subindo a montanha, estariam? O entusiasmo pela conquista é aquilo que faz com que as pessoas tentem atalhos. Mas a jornada é a conquista real. Um caminho melhor, ao invés de intencionalmente tentar esvaziar a mente evitando que pensamentos surjam, é a meditação sobre o som.
Neste método, sentamos calmamente e deixamos que os sons que ouvimos entrem por um ouvido e saiam pelo outro, por assim dizer. Somos como bons donos de hospedaria não bloqueando os pensamentos convidados com conversas discursivas.
Se ouvirmos um carro buzinar, meramente notaremos o barulho, sem dizer a nós mesmos: “Aquela buzina parece com o Bentley do Mr. Wang! Para onde será que ele está indo?” Ou, se ouvimos uma criança gritar lá fora, apenas deixamos que o grito passe pelas nossas mentes sem dizer: “Ah, que “Ah, que garoto barulhento! Queria que sua mãe ensinasse boas maneiras a ele!”
…
Deveríamos usar o som de sua respiração ou seus movimentos, assim como usamos o som da buzina de um automóvel ou o grito de uma criança. Deveríamos apenas registrar o barulho sem pensar sobre ele, de modo algum. Não deveríamos deixar nosso ego se envolver com o som. Que ele passe por nossas mentes sem obstáculos, como um hóspede em um hotel. Um hóspede entra e sai. Não inspecionamos as bagagens de um hóspede. Não o paramos com conversa fiada ou inútil. Vocês sabem, o Buddha certa vez pediu que Mañjuśri escolhesse entre os diferentes métodos de atingir a iluminação. “Qual é o melhor?”, ele perguntou. Facilmente, ele escolheu o método do Bodhisattva Avalokiteśvara que usava a faculdade de ouvir como o melhor método.