Lenore: A sedução do samadhi é conceito, mas o samadhi é uma vivência.
Elizabeth: Nem é vivência. Samadhi é o que somos quando estamos meditando no momento presente, abertos a tudo. Um samadhi muito diferente da concentração num ponto só que bloqueia tudo mais. Quando você medita no samadhi que bloqueia tudo você não tem problemas, não tem o sentido da totalidade. Pode ser muito sedutor; pode-se ter momentos de grande insights, mas se não tiver consciência ou estiver presa nos seus condicionamentos, seus nós cegos estão ali mesmo, por baixo do samadhi, no sono restaurador de um bebê de dois anos que quando acordar sai de lá num passo marcial e continua dominando sua vida. Pode-se recorrer ao samadhi como um narcótico, para bloquear pensamentos e emoções e emprestar um falso sentido de realização.
Se observarmos o que vem sendo dito nos passados dois anos sobre praticantes de renome podemos ver como praticar é difícil. Pessoalmente não tenho qualquer interesse em sobre valorizar os iluminados, uma noção que implica permanência e solidez. A questão é apenas se estamos despertos neste exato momento. E neste exato momento. E neste exato momento. E tendo estado desperto em 1975, talvez tão desperto que lhe foi conferido um título, não quer dizer que se esteja desperto em 1985, ou em qualquer situação que se apresente.
Lenore: Mesmo assim nos aprisionamos na idéia que alguém saiba, que saiba mais do que nós e que nos possa explicar ou mostrar o caminho.
Elizabeth: Sim. Tantos de nós suspendemos o nosso discernimento pensando que havia alguém lá fora incapaz de se enganar ou se comportando de forma grotesca “para nos ensinar”, com um propósito. Sinto também ter apoiado estas pessoas…e assim contribuí para a causa colocando-as acima do meu bom senso. É triste ver como nos iludimos tão diligentemente em nome da prática, quando a prática deveria ser o trabalho que esclarece a mágoa, a raiva ou a confusão e propicia crescimento. Talvez os americanos, agora com 19 anos de idade espiritual estejam prontos para deixar a casa e caminhar sozinhos.
Lenore: Você estaria disposta a dar o seu depoimento pessoal sobre tudo isto, de como você e Joko vêm trabalhando juntas?
Elizabeth: Bom, primeiro eu tinha de estar disposta e farta de fingir. Eu já meditava mas nunca sentia raiva, só tinha úlceras, asma e urticária! Tive de finalmente penetrar na minha realidade corporal—quer dizer, eu podia ser o carvalho no jardim, não tinha qualquer dificuldade, mas não conseguia ser eu mesma sem que surgisse uma atitude auto centrada, uma auto defesa. Então comecei a observar o que vinha emergindo. Não foi preciso dizer o que tinha de observar, eu já sabia. Joko sabe que sabemos e é paciente. Ela está disposta a esperar até que sejamos capazes de procurar.