Hoje depositamos nossa fé no samsara — em todas as coisas do mundo que vivenciamos por intermédio dos nossos sentidos. Porém confiar nessas coisas, a longo prazo, não vai nos ajudar, porque são todas impermanentes. Confiamos em nosso corpo, por exemplo, mas um dia ele vai morrer. Dependemos de condições externas, mas elas estão sempre mudando. Temos confiança em nossos amigos, mas esses podem se desencantar ou se distanciar. Só podemos con fiar verdadeiramente em nossa natureza imutável. Imagine que você faça novos amigos que imediatamente pen sem que você é a pessoa mais maravilhosa do mundo. Pode ser que esses amigos não durem mais do que uma semana. Ou, talvez, quei ram algo de você, ou não sejam de fato seus amigos, apenas bons atores. Por outro lado, pode ser que você faça amigos que não sejam tão fáceis de agradar de início. Eles não se desmancham por você, nem abrem o maior dos sorrisos quando o veem. Mas, lentamente, à medida que você os vai conhecendo, verifica que são sinceros e confiáveis. Ter fé no samsara é como confiar em uma amizade de co res vistosas, uma amizade que seja imediata, mas impermanente. Depositar fé na verdade última é confiar naquilo que, a princípio, não é óbvio; naquilo que, à primeira vista, pode parecer fugidio, impalpável ou inacessível. No entanto, a longo prazo, este é o objeto de confiança mais verdadeiro, mais sólido. O caminho espiritual não é fácil, pois nos força a desafiar e a confrontar praticamente tudo o que até então considerávamos verdadeiro ou real. Mas, se o seguirmos com constância, esse caminho se revelará um amigo supremamente confiável.
Chadgu Tulku Rinpoche no livro Portões da Prática Budista