“Capturar a mente é como pescar enguias. Se você apenas se atirar na lama e tentar pegá-las, elas vão escorregar por todos os lados. Você tem de achar algo que elas gostem — da mesma forma que as pessoas pegam um cachorro morto, colocam em uma jarra grande de barro e o enterram na lama. Logo as enguias vão vir nadando por sua própria
vontade para dentro da jarra para se alimentarem do cachorro — aí tudo o que você tem a fazer é colocar sua mão sobre a boca da jarra e pronto: você pescou as enguias”.
“Funciona da mesma forma com a mente, ou seja, você tem que encontrar algo que a mente goste. Então, torne a respiração tão confortável quanto possível, até o ponto em que a respiração se sinta agradável por todo o corpo. A mente gosta de conforto por isso virá espontaneamente, assim será fácil capturá-la”.
“Você tem que conhecer a respiração em todos os momentos e então a felicidade será sua. O estado humano, o estado do paraíso, e o nibbana: todos estão aqui, na respiração. Se você se deixar levar por outras coisas, a felicidade vai escapar pelos seus dedos: é por isso que você tem que aprender a observar a inspiração e a expiração em todos os momentos. Preste atenção em como a respiração está se comportando — não a abandone no piloto automático. Quando você conhece sua maneira de ser — sentado, em pé, andando, em todas as ocasiões — então você pode conseguir o que quiser dela. O corpo estará leve, a mente calma, feliz em qualquer momento”.
A primeira vez que ouvi Ajaan Fuang falar sobre ‘capturar’ a respiração, não entendi. Eu me sentava tencionando meu corpo para capturá-la, mas isso só me fazia sentir cansado e desconfortável. Então, um dia, quando estava no ônibus indo para Wat Makut, sentei em concentração e descobri que era muito mais confortável deixar a respiração seguir seu curso natural e a mente não fugiria. Como um típico ocidental, quando cheguei a Wat Makut fui logo retrucando: — “Por que você diz para capturar a respiração? Quanto mais você a segura, mais desconfortável fica. Você tem que deixar que a respiração flua naturalmente”.
Ele riu e disse: — “Não foi isso o que eu quis dizer. ‘Capturar’ a respiração quer dizer manter-se com a respiração, segui-la e se certificar de que você não se desvie dela. Você não tem que apertar, ou forçar ou controlá-la. Independente da forma que a respiração esteja, simplesmente permaneça observando”
“Quando você está meditando, o mais importante é ser observador. Se você está se sentindo desconfortável, mude sua respiração até que se sinta melhor. Se o corpo está pesado, pense em expandir a respiração de forma que fique leve. Diga a si mesmo que a respiração pode entrar e sair por cada um dos poros de sua pele”.
§ “A respiração tanto pode ser um lugar de descanso para a mente, como pode ser aquilo que a mente contempla ativamente. Quando a mente não quer se assentar e se aquietar, é um sinal de que ela quer se exercitar. Então, damos trabalho para a mente fazer. Fazemos com que a ela examine o corpo por completo e contemple as sensações da respiração nas diferentes partes para ver como essas sensações estão relacionadas à inspiração e expiração, e ver onde a energia flui suavemente e onde está bloqueada. Mas certifique-se de que sua mente não vagueie fora do corpo. Mantenha-a circulando dentro do corpo e não deixe que ela pare até que ela se canse. Uma vez que esteja cansada, você pode encontrar um local para que ela descanse, e então ela vai permanecer ali naquele lugar sem que você tenha que forçá-la”.
Trecho do livro O Brilho que a Vida Tem Os Ensinamentos de Ajaan Fuang Jotiko Organizado e Traduzido do Tailandês para o Inglês por Thanissaro Bhikkhu
Para baixar o livro completo acesse aqui: https://www.dhammatalks.org/pt_txt_index.html