Crescer espiritualmente é um chamado mais elevado ainda – e só pode acontecer em decorrência de um discernimento claro. A maioria dos praticantes espirituais – mestres inclusive – entra no caminho espiritual como “crianças”. Não nos conhecemos e, quando encontramos o caminho (ou quando ele nos encontra), podemos ser abençoados com um período de insights e experiências profundas que duram muitos meses e até anos. O insight temporário que nos dá um vislumbre da iluminação muitas vezes traz consigo uma sensação de onisciência e de invencibilidade que é enganosa. Pensamos saber mais do que sabemos de fato e é frequente nos julgarmos donos da verdade em nosso “saber”.
À medida que o tempo passa, a própria vida testa esses insights e, quando observamos a nós mesmos e estamos dispostos a crescer, abre os nossos olhos para nossa ingenuidade espiritual. Muitos mestres espirituais dizem ter ficados surpresos ao perceber, em retrospectiva, como era pouco o discernimento que tinham nos primeiros anos de sua suposta iluminação e carreira de gurus, e o quanto era infantil a maioria de seus atos. A “iluminação” em si tem níveis progressivos de maturidade (ver o Capítulo 1). Quando as pessoas têm um insight profundo da não-dualidade, mesmo quando ela começa a se estabilizar ainda há um processo mais profundo a ser vivido. Mesmo que muitos sugiram a existência de um estado não-dual que não muda, não cresce, não pode ser diminuído nem aprofundado, a filosofia do ioga e outras tradições esotéricas sugerem outra coisa – que a iluminação tem muitos níveis e estágios e que são muito poucos os que conseguiram atingir as suas alturas máximas. Ela requer discernimento para avaliar o próprio desenvolvimento espiritual a esse respeito e para aceitar que não há praticamente limite algum ao nosso processo de aprofundamento. Somos chamados a continuar discernindo e crescendo espiritualmente enquanto vivermos.
Trecho de De olhos bem abertos: cultivando o discernimento no caminho espiritual – Mariana Caplan
Respire. Agora 