O Zen é muitas vezes rude na sem-cerimônia com que trata as coisas “sagradas”. Um monge cansado de meditar em silêncio a fim de alcançar o Buda procura o instrutor Ummon desesperado com seu fracasso. A resposta é seca: “Ele está no estrume”. É única forma para acabar as arengas. Para muitos, falar desta forma “desrespeitosa” de um homem perfeito que alcançou a suprema iluminação, de uma flor da raça humana, pode parecer uma profanação. São entretanto recursos usados para despertar o homem. Para produzir a visão do que está além da forma verbal, enquanto o homem não se liberar dessas “prisões” jamais poderá encontrar o que não se encontra quando se procura. A própria idéia da meta, do alvo, já é um impedimento ao encontro. A “procura” é um ato de plena humildade, de abertura, de libertação de tensões acumuladas no consciente e inconsciente. Os conceitos mais tradicionais têm de ser revistos sob uma luz da compreensão profunda. Pecado, virtude, moral, castidade, bem, mal são muitas vezes gaiolas que escravizam o homem.
Introdução no livro Zen e as aves de Rapina de Thomas Merton