Cuide bem de seu corpo do livro WU WEI A ARTE DE VIVER DO TAO
O Tao não conhece limitações para prazeres e não prescreve dietas ou regras alimentares. Como você tem em si todas as capacidades descritas, ninguém pode tirá-las de você, você pode apenas negá-las, pois não acha possível a sua existência apenas através de experiências, a conduta exterior quase não terá efeito sobre a ação de sua energia estranha. Os beatos adoram nos impor regras de como devemos viver, nos explicam o que é pecado e o que não é , sendo que eles mesmos são tão travados e presos que dá pena. Este tipo de pessoa está tão longe do seu interior, isolada do seu eu, que lhes será muito difícil libertar-se desta visão parcial de sua existência.
Em relação à sua vida espiritual, você pode praticar sexo diariamente, até verdadeiras orgias, acompanhadas até de uma ou duas garrafas de bebida alcoólica, fumar sessenta cigarros e comer quilos de carne. Essa maneira de vida com excessos só influenciará a corrente do Tao de uma maneira: fará mal para o seu corpo. Nós, pessoas da civilização, já perdemos há muito tempo a relação com o nosso corpo. Não estou falando de uma veneração narcisista por nosso corpo. Esta relação perdida se expressa da seguinte forma: somos displicentes com o nosso organismo, não lhe damos atenção, e sempre lhe impomos coisas que ele suporta durante algum tempo sem reclamar, mas que lhe fazem mal. A pessoa do Tao encontra por si uma relação com o seu corpo, pois este é uma unidade com o espírito da pessoa, não está separado dela, porém forma um organismo de ação recíproca que é muito suscetível a correntes não materiais e influências.
Eu acredito – e neste ponto não estou só – que a doença, basicamente, é de natureza psicossomática, que qualquer tipo de sofrimento tem antes o seu solo nutriente espiritual, e depois começa a aparecer em forma de algum distúrbio orgânico. É muito importante não considerarmos nosso corpo como parte isolada de nós. É errado considerar a pessoa exclusivamente um corpo com um cérebro que representa isoladamente o nosso espírito, se ambos têm um papel importante para nosso bem estar e para a capacidade de desempenho mental e espiritual.
Por isto, quero dar-lhe algumas recomendações de como você pode desenvolver uma relação mais íntima, melhor e mais compreensível com o seu corpo e suas necessidades. Se observar bem, você verificará que dos seus sentidos a visão é utilizada de forma mais consciente, em segundo lugar a audição, e os outros sentidos dependendo da necessidade, sendo que o tato quase não é mais considerado uma função importante na vida. Quem quer viver a natureza completamente, deveria aprender a senti-la la com todos os sentidos, com um todo do sentimento e do acontecimento, que não é interpretado pela razão antes de chegar no nosso interior. É tão importante que aprendemos espontaneamente e diretamente a utilizar os nossos sentidos. Pense em cenas de acidentes de trânsito, quando testemunhas dão depoimentos contraditórios do mesmo acontecimento. Estas pessoas realmente acreditam que viram as coisas da maneira que estão colocando. Cada um um pouco diferente, ou totalmente diferente do que todos os outros. O processo de pensamento influi fortemente a nossa visão de acontecimentos que ocorreram diretamente em nossa frente. O seu exercício consiste em aprender a utilizar os seus sentidos como uma unidade. Devido ao processo de pensamento acionado antes tornar-se consciente, você separa automaticamente a audição da visão, do paladar, do tato, e do olfato. E nós demos uma nomenclatura para a sensação dos nossos sentidos, cada um tem um nome próprio. E exatamente esta diferença, separação das sensações é tão errada. O ser original, que deveríamos ser, utiliza todos os sentidos simultaneamente, absorve espontaneamente os acontecimentos, não se concentrando apenas nos olhos, porém em toda a sua unidade, sem pensar, sem elaborar as suas impressões. Na tentativa de assimilar a realidade como um todo com todos os seus sentidos, você perceberá rapidamente que isto não é possível intelectualmente. Você não consegue administrar processos simultâneos destes com a razão, muito menos entendê-lo. Ficou para a sua intuição, os seus sentimentos, perceber com um todo as impressões de seus sentidos. No início você não sentirá muito isto. É preciso ter paciência. Mas chegará o dia em que você automaticamente não reagirá mais a estímulos externos com apenas um sentido, mas sim com muitos, e o que vai admirá-lo mais é que a intensidade com a qual você escuta, sente tato e sabor, ganhou uma dimensão e qualidade bem diferente. Então será mais fácil a decisão de se você deve ou não fumar 60 cigarros e fazer com que a mucosa nasal pare de trabalhar em relação à capacidade de sentir odor.
Em relação à alimentação o Tao não tem regras e instruções. Nos conventos taoístas eles são vegetarianos, o que é muito conveniente, pois os monges podem plantar nos jardins do convento a sua própria alimentação de maneira barata, e assim serem relativamente independentes. Por outro lado a permanência nestes conventos muitas vezes é limitada, não se pode comparar o status de monge com o de padre que através de seu voto deve ficar o resto da vida no convento. Mas mesmo assim vale a pena refletir sobre a alimentação vegetariana. Há muitos anos eu conheci um Yogue-Maharishi que era um vegetariano muito assíduo, ele rejeitava qualquer tipo de produto animal, não comia nem ovos nem lacticínios. Ele sempre explicava aos seus ouvintes que os animais mais fortes da Terra, o elefante e o búfalo, eram vegetarianos e dispunham desta força imensa. Ele comparava a alimentação vegetariana com o combustível de um avião a jato, que queima fácil e é etéreo, enquanto que a carne pode ser comparada com óleo diesel, cheio de resíduos e conteúdos que pesam no órgão digestivo. Em grande parte eu dou razão a este homem. Alimentação vegetariana é realmente mais saudável. Estas clínicas de reabilitação para doentes de câncer prescrevem uma alimentação vegetariana como fundamental para uma possível cura. Caso você vá refletir sobre uma alimentação vegetariana, você deveria saber o seguinte (pois aqui falham muitas tentativas): ser vegetariano não significa nem ficar nas suas atuais receitas, comer os acompanhamentos e deixar de comer a carne. Mas também não significa deixar estes acompanhamentos e encontrar algo que substitua a carne, por exemplo estas frituras obscuras. Nada disto tem sentido. Ser vegetariano significa uma mudança total de pensamento em relação à composição de sua alimentação. Os pratos que você vai comer são compostos baseados em pontos de vista bem diferentes do que os acompanhamentos de sua cozinha até hoje. É bom que você adquira alguns bons livros sobre alimentação de alto valor nutriente, eu sairia do nosso assunto se eu escrevesse aqui receitas de cozinha. Para mim é importante que você entenda o princípio. E pratique esporte. Não este esporte de competição que levado pela ambição prejudica a pessoa muito mais do que beneficia. Pratique esportes que divirtam e relaxam.
Eu escrevi que não estou muito ligado com a ioga chinesa, pois ela se concentra em práticas de Kundalini, sendo que os métodos que se ocupam com a meditação do silêncio conseguem resultados bem melhores, sem que o praticante tenha que correr os riscos psicológicos da técnica Kundalini. Mas a ioga indiana Hathayoga é uma coisa muito boa. Você não deve considerar a Hathayoga como mero esporte, ela abrange mais coisas. Mas para a pessoa do Tao é suficiente utilizar esta ioga para fortificar e manter a sua vitalidade. E se você quiser praticar a ioga não a considere como um esporte de competição. Pratique com cuidado, e não se esforce demais.
Ligamentos e músculos podem romper-se tão rápido e demoram tanto para sarar. Aqui também é bom comprar um bom livro, hoje em dia já existe uma grande quantidade deles nas livrarias.