Mente comum: Um diálogo entre o zen-budismo e a psicanálise é um livro de Barry Magid que comprei há alguns anos, comecei a ler e desisti por causa da linguagem psicanalítica que não entendi. Ultimamente peguei ele de novo e fui lendo sem me importar muito com a linguagem não compreendida e tive uma grata surpresa, especialmente quando falamos da ilusões de meditadores com alcançar a iluminação, ter sensações especiais e etc, em detrimento do simples ato de sentar. É um bom livro com ótimos insights do autor que podem ajudar qualquer praticante de meditação. Para mais uma surpresa descobri que o autor foi aluno de Joko Beck (uma mestre Zen dos Estados Unidos que gosto demais). Recomendo muito a leitura dele e dos livros de Joko. Abaixo alguns trechos que não estão relacionados um com o outro.
“As duas marcas básicas da resistência em nossas vidas são o medo e a raiva. Essas emoções demarcam o que não queremos aceitar ou enfrentar, onde o self acha que não está fazendo progresso ou não está sendo tratado da maneira como gostaria. É nesse ponto que as práticas do zen e da psicoterapia se harmonizam. Não tenho conhecimento de nenhum equivalente psicanalítico a uma prática de concentração de- cima- para- baixo especificamente concebida para induzir experiências de “unidade”. Mas a prática de- baixo- para- cima de apenas sentar- se que concentra a atenção na resistência, na tensão emocional e corporal, leva a questões bem conhecidas de analistas e analisandos: “Quem eu acho que sou? O que eu acho que preciso mudar em mim? O que eu sinto que sou capaz de fazer? O que me parece impossível ou loucura? O que espero dos outros? O que preciso evitar a todo custo?” Consideradas em conjunto, as respostas para esses tipos de perguntas podem ser chamadas de nossas crenças centrais: nossa visão pessoal e condicionada do mundo que se dissimula em nossas vidas como “senso comum”. Revelar e tornar explícita a natureza arbitrária de nossas crenças centrais é o objetivo comum do zen e de toda psicoterapia psicanaliticamente orientada.”
“O dualismo propriamente dito constitui uma falha desenvolvimental, uma tentativa fundamentalmente defensiva e fantasiosa de separar o self de um mundo com possibilidades de sofrimento. Em termos do zen, a unidade significa a ausência da separação artificial do dualismo entre self e mundo. O zen fala desse self não- separado como não- self: ou seja, um self sem separação.”
“Sendo assim, em termos budistas, a consciência do vazio é apenas a não- resistência ao fluxo e à transitoriedade de nossas vidas. Esses nós de resistência são o que o budismo chama de apego. O desapego é a aceitação da impermanência. A palavra- chave aqui é aceitação. O que significa aceitar a impermanência? Será que estamos buscando um estado de desapego despojado de sentimentos? Certamente não, pois isso excluiria a compaixão. Ou será que imaginamos poder obter um estado de serenidade imperturbável? Mas isso nos colocaria de volta na posição de acreditar em algum aspecto permanente imutável do self – exatamente o que o vazio contesta. Aceitar nada mais é do que não evitar. Aceitar o momento é simplesmente uma questão de vivenciar o momento; como no caso do vazio, não estamos agregando nenhum sentimento de “aceitação” ao momento para torná- lo diferente ou melhor. “
Barry Magid em Mente comum: Um diálogo entre o zen-budismo e a psicanálise
Dica interessante, vou atrás do livro.
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